Após o secretário estadual da Educação, Ronald Krummenauer, afirmar em entrevista ao GaúchaZH que se arrepende de não ter fechado mais escolas públicas, o Cpers-Sindicato classificou a declaração como "infeliz". O argumento do governo é de que a rede recebe cada vez menos alunos em função da queda na taxa de natalidade da população. A pasta optou, então, por fechar algumas unidades e direcionar os estudantes a outras instituições.
A vice-presidente do Cpers, Solange Carvalho, critica a decisão que "não leva em conta a realidade das escolas, muitas uma porta de salvação em regiões de vulnerabilidade". Ela avalia que a pasta deveria qualificar o ensino e a estrutura das instituições de ensino com menos matrículas.
— Já que há espaço maior, que o governo intensifique um atendimento mais especializado, com estrutura e atendimento psicopedagógico melhores. O que o governo quer é fechar mais escolas e colocar o maior número possível de alunos em sala de aula — afirma, destacando que a transferência de alunos pode gerar transtornos e gastos imprevistos para as famílias.
Solange também criticou as declarações do secretário defendendo mudanças no plano de carreira do magistério.
— Vemos como uma forma de achatar nossos salários a proposta de mexer no plano de carreira feita por um governo que atrasa o salário há dois anos, não paga o piso e não repõe as perdas de inflação. Nosso salário básico inicial é R$ 666 reais. O professor tem que trabalhar três turnos em três escolas diferentes para sobreviver — afirma.
Especialistas divergem sobre fechamento de escolas
Juca Gil, professor de políticas educacionais da Faculdade de Educação da UFRGS, vê como equivocada a decisão do governo de fechar escolas com baixo índice de matrícula. Ele cita que, na Escandinávia, a resposta do governo frente à ociosidade das escolas foi transformar salas de aula livres em espaços como bibliotecas, laboratórios, ginásios ou brinquedotecas.
— Há uma oportunidade de ouro em qualificar o ensino, criando ambientes melhores e investindo em equipamento, mas o governo decide fechar escolas e atulhar outras — afirma.
Ele também critica o argumento de Krummenauer para remunerar professores conforme seu desempenho. Acrescenta, ainda, que a proposta de criar um banco de professores de reserva demonstra despreparo do poder público para lidar com a usual ausência de professores.
— Enquanto não é pago um salário digno, estamos falando em dividir miséria. Primeiro, que o Estado cumpra a lei, para depois discutir mérito de alguma coisa. E o RS tem uma rede enorme onde está previsto que professores faltem, todo dia há quem fique doente. É preciso fazer concurso para professor substituto que, se não estiver como titular em sala de aula, prestará auxílio ou desenvolverá projetos específicos. Redes sérias no Brasil e no mundo fazem isso — defende.
Claudio Almir Dalbosco, coordenador da pós-graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo (UPF), avalia que o fechamento de escolas ociosas não necessariamente acarretará prejuízo no ensino. Para ele, o Estado precisa buscar a racionalidade administrativa.
— Se há como fazer o reagrupamento da rede com uma economia no custo que não comprometa a proposta pedagógica, não vejo por que não. O que não pode é a redução no número de alunos implicar retirada no investimento em educação. Temos que combinar racionalidade administrativa crescente com qualificação da educação, como reformar escolas ou capacitar professores.
Dalbosco também é a favor do modelo de parceria público-privada na educação, vista por ele como "a alternativa futura" e o caminho "mais sensato e racional".
— O Estado não tem mais condições de financiar toda a educação de forma ortodoxa. Ao mesmo tempo, não dá também para cair no modelo totalmente empresarial. O modelo público não estatal, onde há iniciativa da comunidade e um compromisso do Estado, é uma grande alternativa — reflete.