Entre o final deste mês e novembro, a maioria das escolas particulares do Estado deve divulgar o reajuste nas mensalidades para o ano letivo de 2018. A projeção é do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS), que representa os estabelecimentos. A expectativa é de que, por causa do recuo da inflação, o percentual de reajuste seja menor do que o aplicado em 2017, que foi de 11,5%. A projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para os últimos 12 meses está em 2,95%.
– Acredito que, na média das escolas, seja menor do que 2017. Mas o Sinepe não tem gerência sobre o reajuste. Cada escola tem a sua planilha de custos, seus investimentos. Nós fazemos uma pesquisa cujo resultado é uma média. Agora, a maioria das escolas não tem ainda os índices – afirma o presidente do Sinepe, Bruno Eizerik.
Apesar da expectativa de um reajuste menor, os pais ainda devem esperar um índice maior do que a inflação. Pelo menos foi o que ocorreu nos últimos cindo anos. Em 2017, o reajuste identificado pelo Sinepe (11,5%) ficou 83% maior do que a inflação de 2016 (IPCA de 6,28%).
A reportagem consultou sete das escolas privadas com maior número de alunos em Porto Alegre, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Cinco delas confirmaram a sondagem do Sinepe: devem definir os índices a partir de novembro.
Custos para justificar o aumento
Provocada sobre percentuais acima do IPCA sobre as mensalidades, a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) argumenta que o reajuste não está vinculado à inflação, pois leva em conta os aumentos nos salários dos professores, além de outros itens como tributos e taxas de serviços públicos.
– As escolas só podem reajustar as mensalidades e há duas possibilidades para isso ocorrer. A primeira é o custo acrescido durante o ano e o previsto para o ano seguinte. A outra é o acréscimo de melhorias pedagógicas, o ensino de outro idioma, por exemplo – explica a vice-presidente da Fenep, Amábile Pacios.
Ao olhar os índices, ela acrescenta que os pais devem ficar atentos ao que a escola oferece aos filhos, estrutura e serviços. Assim, terão melhores condições para avaliar se o reajuste condiz com a realidade.
Inadimplência e evasão entram na conta
As escolas não devem apenas olhar para as próprias planilhas e definir o reajuste, segundo a vice-presidente da Fenep, Amábile Pacios. Segundo ela, a orientação nacional é para que as instituições olhem também para a situação financeira da comunidade escolar.
– Porque também não queremos perder alunos. As instituições que mais perderam alunos nesses últimos dois anos foram aquelas que atendem mais as classes C e D. Na época pré-crise, a melhora da renda fez essas famílias migrarem para privadas. Mas o desemprego as levou de volta à rede pública – avalia Amábile.
A migração para a rede pública em função da crise aumentou no Estado neste ano. Segundo o Sinepe-RS, de 2016 para 2017, 76% das escolas privadas do Estado registraram migração de alunos que concluíram o Ensino Fundamental e iriam para o Ensino Médio. De 2015 para 2016, esse percentual era de 55%. E o Ensino Médio foi o nível mais impactado pela crise: de 2015 para 2016, as escolas tiveram redução de 21% no número de alunos.
"Sacrifícios" ao longo do ano para garantir a educação
Para tentar diminuir o impacto no orçamento, é importante organização financeira nas famílias para priorizar a educação dos filhos.
– Todos os custos que envolvem a educação não devem ser considerados despesas, e sim investimentos. A família pode diminuir ou cortar outras despesas – sugere Reinaldo Domingos, doutor em Educação Financeira e presidente da Dsop Educação Financeira.
É o que tem feito o servidor público estadual aposentado Luiz Carlos Reis e Silva, 72 anos. O filho Juan, 12 anos, estuda desde o maternal no Colégio La Salle Dores, no Centro da Capital. Nos últimos anos, os reajustes somados à falta de aumento na aposentadoria vêm exigindo "sacrifícios" ao longo do ano.
– Sou servidor público aposentado, então, imagine três anos sem reajuste. Neste mês, ainda não recebi o salário. Então, é preciso ajustar o orçamento. Corta-se mais em viagem de férias, por exemplo, o que até faz a gente descobrir opções boas e baratas mais perto – diz ele.
Diminuir as refeições fora de casa é outra medida que o aposentado adota para garantir a mensalidade de R$ 1,1 mil dentro do orçamento. O fato de morar perto da escola ajuda: não há gasto com transporte escolar:
– É algo que levo em conta não precisar gastar com van. Os pais precisam ficar atentos a esses custos, que são indiretos.