Responder corretamente às questões do Enem exige muito mais do que o conhecimento dos conteúdos do Ensino Médio. Cabe ao candidato assimilar textos longos e extrair dos enunciados informações que nem sempre saltam aos olhos. Ser capaz de cruzar conhecimentos de áreas distintas e relacioná-los com o cotidiano é indispensável. Para saber como agir diante de cada dificuldade, é fundamental conhecer a prova, seus caminhos e armadilhas mais frequentes, dizem professores do Unificado.
— É comum candidatos dizerem que ficaram em dúvida entre duas respostas em uma determinada questão. Muitas vezes, há duas alternativas que são verdadeiras, mas uma delas não é o que o comando da questão está pedindo — exemplifica o professor de português Ávila Oliveira.
Como brinca o professor de geografia Cristiano Amorim, a "questão tem duas respostas, mas uma é mais resposta".
— Sempre tenha em mente que a prova do Enem é politicamente correta. Se eu sei que uma das respostas parece correta, mas é uma resposta mais breve ou superficial, é provável que não seja a alternativa certa — explica.
Diante dessas encruzilhadas, Oliveira recomenda que o candidato volte ao enunciado e reconheça exatamente o que a questão está pedindo.
— É o ponto de vista do autor? Da cultura? De alguém mencionado no texto? Treinar esse tipo de situação agora faz com que o candidato consiga enxergar essas diferenças — diz Oliveira.
Ler os enunciados com atenção tem outra vantagem: há casos em que o texto indica não apenas a forma correta de responder à questão, mas traz informações que podem permitir chegar às duas respostas mais prováveis, mesmo sem um conhecimento sólido do conteúdo cobrado.
Pensar e analisar em uma luta contra o tempo
Não é só nas questões de Linguagens e Ciências Humanas que compreender, interpretar e relacionar é importante. Professores das áreas de Ciências da Natureza e Matemática estão habituados a passar mais tempo auxiliando os alunos a interpretar as questões do que a entender os conceitos envolvidos.
— Às vezes, os alunos dizem nas aulas de matemática: "Bah, professor, por que a questão não diz logo o que quer? Conta toda uma história e tenho de ler todo o texto para ir pegando os dados" — exemplifica Oliveira.
Um método que os estudantes podem testar para não perder tempo durante as questões é ler primeiro as alternativas como forma de ganhar agilidade na resolução.
— Assim, já se tem um indício do que procurar no texto e evita-se fazer novas leituras. Se não sabe a resposta, vá para outra questão para a qual você se sente mais preparado. Depois terá tempo para retornar às que teve dificuldade e refletir — explica o professor de geografia Saul Chervenski.
Se tem duas coisas que o Enem testa tanto quanto as competências dos candidatos são sua paciência e resistência. Por isso, não deixe de levar algum petisco e água. Seu cérebro agradece.
A professora de geografia Vera Brandt ressalta o caráter transdisciplinar da prova do Enem. Muitas vezes, saber a resposta correta demanda do candidato conhecimentos em mais de uma área. Ora o candidato está fazendo cálculos matemáticos em perguntas de cartografia e escalas, ora está recorrendo a conhecimentos de Ciências Humanas, como sociologia e filosofia.
— Tem coisas bem contemporâneas que aparecem bastante, como urbanização, problemas urbanos, locomoção. E há questões que conversam muito com a sociologia; características de crescimento, religiões e sistemas econômicos — exemplifica Amorim.
Na área de Ciências da Natureza, é menos comum a demanda de conhecimentos de outras áreas — à exceção do português e da matemática, conhecimentos fundamentais para compreender enunciados e realizar cálculos. Segundo o professor Adrô Lara, perguntas sobre conteúdos comuns à química e à física podem ser respondidas por quem tiver um bom conhecimento em qualquer uma das áreas.