Os resultados por escola na edição de 2015 do Enem mostram que o nível socioeconômico das famílias está diretamente ligado ao desempenho dos estudantes na avaliação. Das 200 melhores instituições de ensino do Rio Grande do Sul, 195 têm alunos com padrão de vida considerado alto ou muito alto, o que corresponde a 97,5% do total. Responsável pelos dados, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) não divulgou os resultados dos institutos federais junto com as demais notas e admitiu o erro.
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Desde 2014, Inep divulga o indicador que mede o nível socioeconômico das famílias por escola no Enem. A classificação tem sete níveis e leva em conta renda, escolaridade dos pais, posse de bens e contratação de serviços pela família. Os dados são preenchidos pelos estudantes no momento da inscrição no exame.
Na primeira colocada entre as gaúchas, o Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o nível socioeconômico dos alunos foi classificado como "muito alto".
Das 200 escolas com melhor desempenho nas provas do Enem, apenas o Centro Sinodal de Ensino Médio de Sapiranga e o Universitário de Cachoeirinha apresentam classificação "médio alto" para o nível socioeconômico dos alunos. Outras três escolas não tiveram as informações divulgadas. As demais 195, são dos níveis alto e "muito alto".
Um dos idealizadores do indicador socioeconômico na classificação das escolas, o ex-presidente do Inep Francisco Soares afirma que, ao se analisar os dados do Enem, é importante considerar todos os fatores que influenciam na nota.
– Não podemos esquecer que vivemos em uma sociedade desigual, e que isso faz diferença nas avaliações.
Conselheiro Nacional de Educação e especialista em avaliação, Soares afirma que estudantes provenientes de famílias de baixa renda, nas quais os pais têm baixo grau de instrução e não têm acesso a bens culturais - como teatro, cinema e livros - o processo de aprendizagem é mais demorado do que naquelas em que a criança chega na escola com uma forte bagagem cultural.
Doutorando em Educação pela UFRGS, o professor Mateus Saraiva faz pesquisas sobre o uso do Enem como avaliação do Ensino Médio e afirma que desde os anos 1960 estudos mostram que os critérios socioeconômicos são fundamentais para o desempenho dos alunos.
– Muitas vezes, deposita-se na escola e no professor a responsabilidade pelos resultados. Mas os fatores são muitos e maiores – diz.
No entanto, ele afirma que isso não significa que uma criança de família humilde terá como destino uma educação de pouca qualidade.
– Sempre digo que a educação 'também' se faz na escola. Isso porque quando se tem uma rede integrada de saúde e programas sociais é possível reverter essa tendência – diz Saraiva ao reforçar que as escolas que atendem alunos de nível socioeconômico mais baixo precisam de suporte maior por parte do governo, principalmente na capacitação dos professores.
Seleção dos melhores alunos
Os educadores concordam ainda que é preciso levar em conta outro fator que diferencia as escolas no Enem: os critérios de seleção. As instituições privadas fazem uma forma de seleção pela renda, e as públicas de excelência utilizam de provas para escolher os melhores alunos.
Das 10 melhores escolas públicas do Rio Grande do Sul, nove fazem provas para ingresso de novos alunos: o Colégio Politécnico da UFSM, os colégios Tiradentes de Porto Alegre, Ijuí, Passo Fundo e Pelotas, os militares de Porto Alegre e Santa Maria e o Instituto Federal de Bento Gonçalves. Apenas a Escola Estadual Gomes Carneiro, de Porto Alegre, não tem seleção. A instituição aparece em 10º lugar na classificação das escolas públicas do Rio Grande do Sul.
No Colégio Politécnico de Santa Maria, chega a 20 o número de candidatos por vaga em cada seleção para o Ensino Médio.
–A prova acaba selecionando alunos com mais qualificação. Isso com certeza ajuda a ter uma turma mais homogênea – afirma o diretor da instituição, Valmir Aita.