Uma sessão solene na Câmara dos Deputados, em Brasília, celebrou ontem os 10 anos do Movimento Todos Pela Educação (TPE), organização da sociedade que tem como missão engajar o poder público e a sociedade no compromisso pela efetivação do direito de crianças e jovens a uma Educação Básica de qualidade. A solenidade foi proposta por uma frente parlamentar mista, formada por deputados e senadores.
Durante o evento, integrantes do TPE, estudantes, gestores, professores e membros de projetos ligados à educação lançaram um manifesto (leia ao fim do texto), elaborado com base em um conjunto de frases sobre a importância da educação para o presente e para o futuro do país, enviadas por pessoas e organizações a pedido do movimento.
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– Se a gente não colocar a educação como eixo principal das mudanças, o país não vai caminhar – disse Ricardo Salzetta, gerente de conteúdo do Todos Pela Educação.
Para a presidente do movimento, Priscila Cruz, a cada crise política e econômica que o Brasil enfrenta – e que atinge a população de maneira sistemática, punindo sempre os mais pobres –, fica claro que a educação não pode ser uma política lateral.
– É preciso que o Brasil tenha condições de combater os momentos críticos, de superar as dificuldades, de se reinventar para continuar a construção de um país bom para todos e consciente da sua responsabilidade no cenário mundial. É somente por meio da Educação que vamos alcançar isso. Afinal, como já foi muito bem dito por Paulo Freire, a educação tem o poder de mudar as pessoas, e elas, de mudar o mundo – afirma.
A leitura do manifesto contou com a participação dos MCs da Educação, do interior de São Paulo, e de alunos do 6º ano do Centro de Ensino Fundamental 27, de Ceilândia.
Manifesto pela Educação
"O que a vida quer da gente é coragem.*
Coragem de ter vergonha.
Vergonha de ter aceitado por tanto tempo, por tantos séculos,
crianças e jovens sem acesso a uma Educação de qualidade.
A uma Educação a que todos temos direito.
A uma Educação que é direito de todos.
A uma Educação para fazer do Brasil
um País desenvolvido e sustentável.
Essa Educação não fizemos direito.
É obra que a história nos confiou.
Coragem de admitir que dissemos e ainda dizemos NÃO.
Dizemos NÃO às crianças mais pobres.
Crianças presas no ciclo da pobreza.
Presas no ciclo da exclusão.
De geração em geração, em geração, em geração.
Coragem de escrever outra história,
História com orgulho, não com vergonha.
Orgulho dos passos que vão mudar o destino do Brasil.
Coragem de cumprir a maior, a mais bela, a mais importante de todas as missões: garantir essa Educação a todas as crianças e a todos os jovens.
Missão que é comum a todos, que não exclui ninguém.
De todos para todos.
Coragem dos governos para agir e colocar a Educação
no centro do projeto de nação. O maior projeto.
Coragem para dizer chega, basta!
Chega de aceitar que uma criança fique analfabeta. E que um jovem fique sem o aprendizado que prepara para a vida.
Chega de aceitar a Educação fora do lugar estratégico para o País e para cada um de nós.
A Educação, no centro,
é saúde, é economia, é infraestrutura, é segurança.
A Educação, no centro,
muda o rumo do País de uma vez por todas.
A Educação, no centro,
pede mais investimento chegando a cada aluno.
Na crise ou no crescimento.
Investir mais e melhor.
A Educação, no centro,
se faz com gente.
Valoriza o professor, o principal profissional do País.
Melhora a formação e a carreira do docente, do diretor e do coordenador.
A Educação, no centro,
avança sempre e com vigor em direção às metas do Plano Nacional de Educação.
A Educação, no centro,
É urgente, é inadiável, é prioridade.
É aqui e agora.
A Educação precisa de mais para chegar lá.
Nenhum caminho é tão valioso e tão promissor para cada criança, para cada jovem, como o caminho da aprendizagem, o caminho do conhecimento!
Nenhum.
Nesse único caminho está o conhecimento da humanidade.
Nesse único caminho estão os valores que nos fazem humanos, cidadãos, trabalhadores, pais, mães, filhos de uma nação.
Esse único caminho distribui as conquistas para toda a sociedade, para um mundo melhor, menos injusto e menos desigual.
Nesse único caminho está a ponte entre o presente incerto e um futuro potente
para o Brasil.
Em cada canto do País, em cada estado, cidade, escola e sala de aula, é hora de dar as mãos, de juntar vontades, de descobrir, de valorizar, de construir esse caminho.
Aonde queremos chegar? Aonde vamos chegar?
À possibilidade de sonhar, à autonomia, à consciência crítica e ao compromisso com o bem comum. Chegaremos à liberdade!
É essa Educação, essa linguagem comum de liberdade, que nos levará a ser mais que uma simples parte.
A ser quem transforma e quem respeita toda a vida ao redor!
É essa Educação que fará o Brasil mais forte.
Eu, você, todos nós juntos pela Educação!"
* Adaptação livre de trecho de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa