A taxa de desemprego no país caiu de 7,9% para 6,9%, o menor patamar desde o segundo trimestre de 2021. No Rio Grande do Sul, houve uma quase estabilidade, passando de 5,8% para 5,9% no segundo trimestre deste ano, mesmo após a enchente que assolou o Estado em maio.
De acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (15) pelo IBGE, no RS, 367 mil pessoas continuam em busca de uma ocupação, 3 mil a mais do que no primeiro trimestre deste ano. Os empregados somam 5,862 milhões.
A expectativa, antes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, indicava impacto maior da enchente no mercado de trabalho. No entanto, basta aprofundar a análise para perceber que a cheia deixou, sim, marcas mais amplas no emprego e na renda da população gaúcha do que aponta a taxa de desemprego.
O primeiro indicador que ajuda a explicar o efeito comprimido da desocupação é a chamada força de trabalho. Entre abril e junho deste ano, 35 mil gaúchos saíram do mercado de trabalho. E, como ainda não voltaram a procurar uma função, não são incluídos nas estatísticas de desempregados, mas, quando regressarem, automaticamente, pressionarão a taxa.
São pessoas que, no geral, foram atingidas, na empresa ou na residência, e que não reiniciaram de imediato a busca por uma vaga. É o que comenta o coordenador da Pnad no RS, Walter Rodrigues.
— Há um descolamento do Estado dos dados nacionais. Antes da tragédia climática, não seria esperada uma queda, ainda que leve, porque se trata do período em que sazonalmente a tendência é de recuperação após o primeiro trimestre, que é quando acontecem ajustes e se encerram os contratos temporários — afirma.
Oscar Frank, economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-Poa), reforça a percepção. Ele argumenta que “alguém olhando somente para a taxa de desemprego poderia dizer que não houve tanto impacto”, mas, quando se analisa os demais indicadores, percebe-se o oposto.
— O total de pessoas ocupadas caiu 35 mil. O aumento de pessoas desocupadas aumentou em só 3 mil. Alguém pode achar, mas não foi pouco o impacto. A questão é que, quando olhamos para a força de trabalho, vemos que essa população não-economicamente ativa cresceu. Houve essa saída das pessoas que perderam o seu emprego e não voltaram, e foi isso o que evitou, certamente, que tivéssemos, por conta dessas proporções dos números envolvidos, um aumento mais significativo da taxa de desemprego, mas é um fator que preocupa – analisa Frank.
Porto Alegre é a única entre as capitais a ter alta na taxa de desocupação
Porto Alegre foi a única entre as cidades avaliadas pelo IBGE a sofrer com a elevação da taxa de desemprego. E a alta não foi pequena: chegou a um ponto percentual, passando de 6,1% primeiro trimestre para 7,1%, no segundo.
Quando o assunto são as regiões metropolitanas, a da capital gaúcha também está isolada entre as que exibem alta na taxa de desemprego. Desta vez, mais contida, de 7,2% no primeiro, para 7,5% no segundo trimestre.
Impactos na renda
Apesar do descolamento no mercado de trabalho, a renda não foi afetada. O economista Oscar Frank e o coordenador da PNAD no RS, Walter Rodrigues, também apontam para os efeitos neste aspecto.
Para se ter uma ideia, enquanto no país, o rendimento médio real avançou 1,08% no trimestre para R$ 3.214, no Estado, chegou a R$ 3.599, com uma variação de 5% em igual período, o que garante R$ 170 a mais no trimestre e R$ 294 no ano aos gaúchos.
Em Porto Alegre, o valor médio atingiu R$ 5.686. Isso representa R$ 446 a mais no trimestre e R$ 821 no ano, após alta de 8,5% na passagem do primeiro para o segundo trimestre.