Os últimos acontecimentos na tensão entre Irã e Israel elevaram o nível de alerta sobre impactos na economia mundial. Com o país persa adotando ação mais incisiva no conflito, aumentam as incertezas sobre investimentos, preços ao consumidor e comportamento da inflação no Brasil.
No curto prazo, o estresse geopolítico repercutiu na valorização do dólar e em recuo na bolsa, movimento normal em momentos de incerteza, segundo especialistas. Analistas de mercado afirmam que efeitos mais robustos dependem de novos estágios do conflito, como eventual contra-ataque de Israel.
Na parte dos investimentos, a busca por papéis menos voláteis tende a ganhar força para proteger ativos enquanto não há tanta clareza sobre as próximas etapas do embate.
Dólar
Especialistas avaliam que a tendência é de o valor da moeda americana seguir em alta no Brasil nos próximos dias, mas não exclusivamente pela escalada no conflito do Oriente Médio. A incerteza gerada pela tensão na região é mais um impulso na desvalorização do real frente ao dólar, segundo analistas de mercado. Além desse fator, a moeda americana também avança em ambiente com juro resistente e varejo em alta nos Estados Unidos, segundo o economista-chefe da Suno, Gustavo Sung.
O dólar mais caro costuma afetar o consumo da população brasileira, porque a moeda está atrelada a diversos insumos importados usados na produção de itens presentes no dia a dia das famílias, como os alimentos, além de frear investimentos por parte das empresas.
Petróleo
Mesmo com os recentes ataques do Irã no território de Israel, o preço do barril de petróleo abriu a semana em queda, abaixo dos US$ 90 e girava em torno desse valor até o fim da tarde desta segunda-feira. No entanto, especialistas afirmam que o fato de o Irã ser um dos grandes produtores de petróleo no mundo aumenta a chance de impacto nos preços dessa commodity em caso de ascensão do confronto.
Produtos e serviços
Um dos primeiros efeitos nos produtos consumidos pelos cidadãos seria no âmbito dos combustíveis. Além de elevar o preço para o consumidor final na bomba, existe um efeito em cascata. No entanto, também teria de se observar como seria a postura da Petrobras para segurar o valor dos combustíveis no país para mensurar esse impacto. Eventual aumento de preço no diesel afeta diversos produtos consumidos pela população, como alimentos, em razão do custo de transporte. O economista-chefe da Austin Rating afirma que esse efeito poderá ser observado em caso de elevação no tom do conflito:
— A gente sabe que quando sobe o preço dos derivados do petróleo a gente sofre um efeito cascata na economia por conta do frete. Os preços dos produtos vão subindo.
Entraves logísticos em canais de transporte marítimo na região do conflito também podem encarecer o frete internacional, pressão que acaba sendo repassada aos consumidores, segundo economistas.
Inflação e cortes de juros
Caso ocorra pressão no preço dos combustíveis, existe perigo de reflexo na inflação. Esse movimento pode incluir um asterisco no planejamento de corte no juro diante do risco de recrudescimento da inflação, segundo especialistas.
Investimentos
Com desconfiança e incertezas sobre novos desdobramentos no conflito, parte dos investidores mira em papéis mais seguros para proteger o dinheiro nesse momento. Ativos de renda fixa, como os ligados a certificado de depósito interbancário (CDI) e Selic, ganham força nessa busca por proteção, segundo o economista André Perfeito.
Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências Consultoria, afirma que outros títulos externos podem entrar nesse rol de proteção. Reservas de valores como dólar e ouro são opções nesse sentido, segundo o economista:
— Papéis atrelados ao dólar e títulos do Tesouro americano acabam sendo uma fonte sempre muito usada para essa busca por segurança e proteção. Tem o próprio ouro também, que muitas vezes acaba sendo um refúgio para a preservação de valor em detrimento de ações e ativos mais arriscados, ligados a commodities e mesmo moedas de países emergentes.
Bolsa
O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, afirma que alguns setores da bolsa, como o de commodities de metal, podem valorizar diante da crise externa. Isso ocorre porque o Brasil é um importante produtor nesse ramo e teria vantagem nas exportações diante de eventuais gargalos. Esse movimento pode ganhar força diante de sanções comerciais diante de escalada no conflito.
Já o economista e sócio da Tendências afirma que as incertezas geradas pelo conflito não criam cenário promissor para a bolsa no curto prazo:
— Como se costuma falar no jargão de mercado, a bolsa está barata. É uma verdade, mas não significa necessariamente que tem aí um quadro promissor de curto prazo. Porque tem uma série de ruídos externos, como essas questões geopolíticas e a própria percepção de desaceleração na China.