O rendimento médio real mensal per capita nos domicílios dos gaúchos subiu 6,27% em 2022 e encerrou o ano na faixa de R$ 2.033. O resultado acompanha a movimentação verificada no país (cuja alta foi de 6,8%, batendo em R$ 1.586) e determinou a redução do principal termômetro da desigualdade, o chamado índice de Gini, aos menores patamares da série histórica, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua): Rendimento de todas as fontes, divulgados nesta quinta-feira (11), apontam que esse indicador ficou em 0,439 no Estado e em 0,486 no Brasil. Em ambos os casos, trata-se do mais baixo nível desde 2012.
O desempenho é fruto de efeitos associados aos programas de transferência de renda emergencial (caso do Auxílio Emergencial e do Auxílio Brasil) e chega na esteira do período em que foi registrado o recorde de empobrecimento dos brasileiros, ou seja, em 2021, o segundo ano da pandemia mundial de covid-19.
O Coordenador do PUCRS Data Social, André Salata, lembra que no mesmo ritmo em que as liberações de recursos dos programas sociais federais chegaram aos lares brasileiros, ocorria o aquecimento do mercado de trabalho. Os reflexos, argumenta, foram melhorias concentradas, sobretudo, nas faixas populacionais com as piores remunerações.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, na metade mais pobre da população, o rendimento cresceu 6,5% para R$ 808. O valor fica R$ 271 acima da média nacional, R$ 537, que, por sua vez, apresentou variação mais consistente de 18%: era de R$ 455, em 2021.
Já na camada dos 5% com rendas inferiores, no RS, o aumento foi de somente R$ 28, ou 18,6%, passando de R$ 150 para R$ 178. No país, em igual faixa, chegou 102%, com R$ 44 de incremento na comparação entre os R$ 43 mensais médios, de 2021, e os R$ 87 no encerramento do ano passado.
— É essa concentração nas menores camadas salariais, abastecidas pelos programas emergenciais da pandemia, que faz com que se reduza um pouco a desigualdade. Essa queda era esperada pelo contexto, pois a desigualdade já vinha caindo desde 2021, por isso, a tendência seria de que 2022 fosse melhor — pontua Salata.
Manutenção depende da atividade econômica
Nos domicílios que possuem os rendimentos médios reais mensais mais altos do país – mas que sequer superam o valor de um salário mínimo (R$ 1.320) –, a camada dos 90% com melhores ganhos avançou em R$ 101, de R$ 945 para R$ 1.046, após variação de 10,68%. No Estado, a elevação foi de R$ 76, o que representa variação de 5,6%.
Salata acrescenta que, apesar de perderem em volume, em 2022, as coberturas oferecidas pelos programas de transferência, nesse caso o Auxílio Brasil, avançaram quando comparados com o Auxílio Emergencial, de 2021. Segundo ele, o valor de R$ 600 oferecido aos beneficiários, ao longo do ano passado, também ajuda a explicar a redução da desigualdade.
O coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues, chama a atenção para a escalada dos lares incluídos na categoria “outros programas”, que considera, justamente, as transferências criadas durante a pandemia. O Estado, que tinha apenas 0,4% das residências nessa condição em 2019, chegou a 16,5% em 2020, e em 8,7% em 2021. No ano passado, encerrou em 1%.
Com base nessa percepção, diz ele, agora, a manutenção de cenários depende menos de programas sociais e mais do aquecimento do mercado de trabalho, da atividade econômica e da capacidade de controle da inflação.