Por Victoria Jardim
Presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)
Em 1983, o movimento liberal começava a aflorar no Brasil, com a fundação do Instituto Liberal, no Rio de Janeiro, criado por Donald Stewart Junior. A intenção era difundir e defender o liberalismo em suas diversas vertentes teóricas. Um ano mais tarde, em Porto Alegre, foi fundado o Instituto de Estudos Empresariais (IEE), com o objetivo de incentivar e preparar jovens lideranças empresariais com base nos princípios da liberdade, responsabilidade individual, respeito à propriedade privada e ao Estado de Direito.
Naquele momento, o Brasil, acossado pelo regime militar, patinava em meio a uma década perdida. Tornava-se evidente a necessidade de lideranças fortes que pudessem mudar os rumos do país. Foi assim que um grupo de 25 jovens empreendedores percebeu que os negócios e o Brasil do passado só seriam os negócios e o Brasil do futuro se estivessem preparados para um mundo interconectado e aberto, fundamentado sobre sólidos princípios. É nesse espírito e nesse momento histórico que nasce o IEE. E, em 1988, após o regime militar, o Fórum da Liberdade, com o intuito de encontrar alternativas objetivas e viáveis para equacionar os problemas latentes e mais urgentes da sociedade brasileira.
Desde então, o Fórum da Liberdade se consolidou como o maior espaço de debates políticos, econômicos e sociais da América Latina, de acordo com a revista Forbes. Mais de 80 mil pessoas passaram pela plateia, cinco prêmios Nobel palestraram no evento, isso sem contar os diversos chefes de Estado, intelectuais e empresários renomados que se fizeram presentes. Mesmo nos anos de pandemia, o Fórum da Liberdade se manteve presente no calendário de eventos, por meio de duas edições online, e em 2022 enfrentou o desafio de uma edição presencial pós-pandemia, depois de um Carnaval carioca cancelado por conta das restrições sanitárias.
Essa solidez garantiu que a edição de 2023 chegasse com o peso de retomar a esperança de que a liberdade tem seu espaço cativo no coração dos brasileiros. Não só pela condição pós-pandemia, mas também pela conjuntura política do Brasil. Em um momento tão complexo, coube ao Fórum da Liberdade retomar o espírito jovem, questionador e propositivo sob o qual foi criado.
A edição deste ano trouxe uma temática menos sisuda – Alice no País das Liberdades. O tema aparentemente desconexo e impertinente para o nada maravilhoso país em que vivemos despertou não só a curiosidade, como também o engajamento do público, que se permitiu adentrar na “toca do coelho” para discutir os problemas do país e, principalmente, alternativas de soluções baseadas em um mundo mais livre e próspero.
Ao longo do evento, diversas analogias foram feitas com a obra de Lewis Carrol, que serviu de pano de fundo para todos os painéis do palco principal. Além de inovar na temática, o Fórum da Liberdade se propôs a inovar na forma. Atrações culturais foram incorporadas ao evento, que deixou de ser “apenas” um fórum de debates para tornar-se um grande festival cultural.
As 4,5 mil pessoas que passaram pelo evento vibraram com discussões que abrangeram da política à economia, do agronegócio à inovação, do ativismo judicial à liberdade de expressão. E, em meio a um momento quase de desesperança, o Fórum da Liberdade fez renascer a velha chama de que o Brasil pode ser, sim, livre e maravilhoso.
O potencial do país é tão grande quanto a sua extensão. Abençoado por Deus e bonito por natureza, como diria Jorge Ben. Dotado de lideranças fortes e corajosas, que pela liberdade empenharão suas vidas, suas fortunas e sua sagrada honra, como salientou o vice-prefeito Ricardo Gomes. Pessoas e lideranças que, assim como o deputado Marcel Van Hattem, não querem viver em outro país, querem viver em outro Brasil. Pessoas que sejam ambiciosas, como disse o empresário Flávio Augusto. Pessoas que acreditam na força da liberdade, da pluralidade e da tolerância. Pessoas que, ao contrário de Alice, sabem para onde querem ir, aonde querem chegar e estão em busca não de uma utopia como o jardim de flores, mas de um mesmo objetivo – um Brasil mais próspero e livre para todos.
Um Brasil onde possamos viver de maneira livre, com oportunidades abundantes, pessoas soberanas, trocas encorajadas, criação de riqueza estimulada e empreendedores valorizados. É para isso que Fórum da Liberdade se mantém ao longo de suas 36 edições. Para transmitir valores e princípios sólidos que nos guiarão ao longo dessa estrada. E por mais que existam bifurcações e obstáculos no caminho, trazer a esperança de que um dia chegaremos ao nosso destino final.