Em dia marcado por instabilidade e troca de sinais, o dólar se firmou em terreno positivo ao longo da tarde e emendou nesta terça-feira, 7, a terceira sessão consecutiva de valorização no mercado doméstico de câmbio. Entre mínima a R$ 5,1335 e máxima a R$ 5,2077, a divisa encerrou o pregão em alta de 0,50%, cotada a R$ 5,1998 - maior valor de fechamento desde 23 de janeiro. Em fevereiro, a moeda já acumula ganhos de 2,42%.
Segundo operadores, os ataques ao Banco Central promovidos pelo presidente Lula, que voltou a criticar hoje o nível da taxa de juros e a gestão de Roberto Campos Neto à frente do BC, mais uma vez impediram que o real acompanhasse o sinal de baixa da moeda americana frente a divisas emergentes pares, como peso mexicano, chileno e rand sul-africano, e de países exportadores de commodities.
Termômetro do desempenho do dólar frente a moedas fortes, em especial o euro e o iene, o índice DXY ameaçou romper o piso de 103,000 pontos, em meio à fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Quando o mercado local fechou, marcava 103,459 pontos, queda de 0,13%. Embora tenha ponderado que pode elevar os juros além do esperado pelo mercado caso a economia americana continue dando sinais fortes, Powell repetiu que processo de desinflação está em curso mesmo o mercado de trabalho ainda bastante aquecido e disse esperar que 2023 seja um ano de "quedas significativas" da inflação.
"Lá fora, o mercado ficou mais positivo depois da fala de Powell, mas aqui continuou pesado. A ata do Copom pela manhã foi mais amigável ao governo, mas Lula falou novamente contra o BC, o que causou certo estresse", afirma líder de renda variável da Manchester Investimentos Marco Noernberg.
Em entrevista coletiva, Lula pediu a Campos Neto "responsabilidade com o País" e disse que o presidente do BC deve explicações ao Congresso Nacional. Em alusão à substituição do diretor de Política Monetária da autarquia, Bruno Serra, cujo mandato termina em 28 de fevereiro, Lula disse que o governo tem "mais gente para indicar" e jogou a bola no colo de Fernando Haddad, ministro da Fazenda. "Eu espero que o Haddad esteja vendo, esteja acompanhando e esteja ansioso do que tem que fazer".
Para o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, o mercado assumiu uma postura bastante "compradora" com recomposição técnica de posições defensivas após o dólar ter furado o piso de R$ 5,00, nível que não era visto como sustentável diante das incertezas no campo político e fiscal. "O ministério da Fazenda está fazendo seu trabalho, mas Lula segue na briga com o mercado. Parece que escolheu a figura de Campos Neto como bode expiatório", afirma Caciano, que vê um teto de R$ 5,22 para a taxa de câmbio no curto prazo.
Pela manhã, Haddad disse que a ata do Copom "veio melhor" que o comunicado divulgado no dia 1º, colocando pontos importantes sobre o trabalho da Fazenda. Ontem à noite, o ministro chegou a dizer que o comunicado do Copom na semana passada "poderia ter sido mais generoso", justamente em razão das medidas anunciadas para redução o rombo fiscal deste ano.
Na ata, o Copom observou que projeções de déficit primário feitas pelo mercado para 2023 "são sensivelmente menores do que o previsto no orçamento federal, possivelmente incorporando o pacote fiscal" de Haddad. "O Comitê manteve sua governança usual de incorporar as políticas já aprovadas em lei, mas reconhece que a execução de tal pacote atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação", afirmou o BC.