A inflação oficial do país fechou 2022 em alta, com nova aceleração no último mês do ano. Com avanço de 0,62% em dezembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado do ano ficou em 5,79%. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na manhã desta terça-feira (10).
Diante desse avanço, a inflação de 2022 furou a meta de 3,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), cujo teto era de 5%. Mesmo com novo estouro, a inflação acumulada está abaixo da registrada no fechamento de 2021: 10,06%. Esse é o segundo ano no qual a inflação oficial do país ficou acima da meta estabelecida pela CNM e perseguida pelo Banco Central (BC).
O resultado de 2022 foi puxado pelo grupo de alimentação e bebidas, que teve o maior impacto no acumulado do ano. Na sequência aparecem saúde e cuidados pessoais. A maior variação absoluta veio do grupo vestuário, que registrou altas acima de 1% em 10 dos 12 meses do ano (veja mais abaixo).
Dentro da alimentação, os destaques foram a cebola, com alta acumulada de 130,14% no ano, e o leite longa vida (26,18%), que contribuiu com o maior impacto (0,17 ponto percentual.). Batata-inglesa (51,92%), frutas (24%) e o pão francês (18,03%) também têm destaque no ponto de vista de variação percentual.
— No caso da cebola, a alta está relacionada à redução da área plantada, ao aumento do custo de produção e a questões climáticas. Já os preços do leite subiram de forma mais intensa entre março e julho de 2022, quando a alta acumulada no ano chegou a 77,84% — explicou André Almeida, analista do IPCA do IBGE.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que o IPCA só fechou o ano em 5,79% graças à renúncia fiscal sobre impostos que incidiam sobre gasolina, energia e telecomunicações, promovida pelo governo federal. Se não fosse essa manobra, o IPCA fecharia o último ano em patamar próximo aos 9%, segundo o economista. Os dados da pesquisa corroboram a análise de Braz. O grupo de habitação registrou certa estabilidade e o de transporte recuou no período.
Braz destaca o peso da alta dos alimentos dentro do orçamento das famílias. O especialista afirma que, tirando a alimentação fora de casa do indicador, o grupo de alimentação teve alta de quase 14%:
— Isso mostra que para as famílias menos favorecidas, mesmo que os salários sejam corrigidos pela inflação média, ainda vai faltar um pouco. A correção salarial não vai ser o suficiente para garantir a mesma quantidade de alimentos. Levando em conta que famílias de baixa renda não têm uma cesta de consumo grande. Concentram a maior parte dos gastos realmente com alimentos.
Para 2023, Braz destaca que é difícil estimar o comportamento da inflação no país sem ter uma clareza sobre a política fiscal do novo governo. Enquanto isso não ocorre, a economia passar por grande volatilidade, o que torna turva a visão sobre o futuro da inflação:
— Acredito que depois que a proposta fiscal for apresentada, a gente tenha uma noção um pouco mais forte sobre o que pode acontecer de fato no Brasil em 2023.
Em carta endereçada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad , o BC deve citar a guerra na Ucrânia e a reabertura econômica pós-covid como as principais justificativas para não cumprir a meta novamente. A instituição também deve reforçar a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, como instrumento contra a alta de preços.
Desde a criação do sistema de metas, em 1999, o BC descumpriu a meta seis vezes. Com a segunda carta seguida, o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, se iguala a Henrique Meirelles no número de explicações oficiais à Fazenda.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que pega as famílias com rendimento de um a cinco salários-mínimos, teve alta de 0,69% em dezembro e fechou o ano com alta de 5,93% no país, abaixo dos 10,16% registrados em 2021.