Com estimativa de juros em patamar ainda elevado, 2023 deve ser o novo ano da renda fixa nos investimentos. Os últimos anúncios do governo eleito na economia e a incerteza sobre a responsabilidade fiscal do país empurram a redução da taxa básica de juros para um horizonte mais distante, afirmam especialistas.
Até poucos meses atrás, parte do mercado avaliava que existia espaço para redução de juros com maior folga na segunda metade de 2023. No entanto, o flerte da próxima gestão do Planalto com aumento do rombo no orçamento via emenda constitucional da transição e a incerteza sobre as políticas da futura equipe econômica colocaram uma âncora nessa estimativa.
Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, afirma que o governo eleito está dando sinais ruins sobre a responsabilidade fiscal. Isso alimenta o ambiente de incerteza sobre a economia do país, o que trava o processo de redução do juro básico nos próximos meses.
— Se o governo se mostrar completamente relapso com a questão fiscal, ficar focado em gastar, fazer aquela velha política de lotear as estatais, 2023 vai ser o ano da renda fixa — antecipa.
O executivo avalia que uma economia onde o maior atrativo é a renda fixa não estimula o desenvolvimento do país.
Selic
Na renda fixa, os investidores compram determinados títulos e visualizam o retorno do rendimento com base em taxas preestabelecidas. Como boa parte desses ativos está ligada à taxa básica de juros da economia, a Selic – caso dos títulos de dívida do governo federal –, quanto maior for o juro básico, maior é o retorno.
Os investimentos em renda fixa podem ser pré-fixados ou pós-fixados. No primeiro caso, a taxa fixa é determinada no momento da aplicação. Já os ativos pós-fixados são aqueles nos quais o valor do rendimento é conhecido no momento do resgate.
Alejandro Schiuma, que é gestor de renda fixa da EQI Asset, especializada na gestão de ativos, destaca que pós-fixados são mais vantajosos. Isso ocorre porque o investidor pode obter benefícios no curto prazo com a manutenção da Selic em alta. Schiuma destaca que a diversificação dos ativos também é ação importante nesse processo:
— Vai ter pouca diferenciação para o pequeno investidor, entre ele comprar um CDB com liquidez diária de um banco de primeira linha ou comprar um fundo referenciado DI. O investidor tem de ter um pouco de fundo, uma reserva no Tesouro Direto, um CDB de primeira linha.
Setores
Bianchi Filho indica que, em um cenário de Selic alta, os investimentos menos arriscados na renda variável são aqueles ligados a empresas que sofrem menos os efeitos do crédito alto e mais restrito. Papéis de companhias que atuam com produtos de tíquete menor e de consumo recorrente, como comércio de alimentos e de outros itens essenciais, tendem a ser mais atrativos nesse ambiente.
Por outro lado, ações de companhias baseadas em consumo de bens duráveis e sensíveis a crédito, como eletrodomésticos, móveis, veículos e imóveis, tendem a ter mais dificuldade em ambientes de juros elevados.
O sócio-diretor da Fundamenta Investimentos deixa claro que essa é uma estimativa com base no que foi sinalizado até o momento. Eventuais incentivos por parte do governo em determinadas áreas podem mudar o cenário.
As opções
Tesouro Selic Pós-fixado
O investidor compra títulos da dívida pública emitidos pelo Tesouro Nacional e recebe o valor em prazo determinado com taxa de correção. No caso do Tesouro Selic, o retorno é atrelado à taxa básica de juros.
- Prós: tem boa liquidez. Como conta com rendimento diário, o Tesouro Selic protege o dinheiro do investidor, preservando o valor aplicado em caso de retirada antecipada. É alternativa para reserva de emergência e investimento de curto prazo com mais segurança. Ou seja, pode ser espécie de poupança com retorno melhor em épocas de juro alto, de acordo com o valor investido.
- Contras: como o rendimento desse título é atrelado à taxa Selic, a rentabilidade é mais baixa em relação a outros títulos pensando no curto prazo. Incide Imposto de Renda e IOF em saques promovidos antes de 30 dias de aplicação e também conta com taxa cobrada pela B3.
CDB Pós-fixado
O Certificado e Recibo de Depósito Bancário (CDB) é um título emitido por bancos. No caso do CDB pós-fixado, a rentabilidade é geralmente ligada ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), taxa utilizada nos empréstimos entre instituições financeiras, que segue a Selic. O investidor conhece a taxa do rendimento no momento da aplicação, mas o valor de resgate é conhecido no vencimento, pois é ligado a um indexador que sofre alterações diárias.
- Prós: alguns CDBs contam com liquidez diária, permitindo ao investidor resgates de acordo com a necessidade e com baixo risco de perda de valores. Como é oferecido por diversas instituições bancárias, conta com grande variedade de oferta, com valores de acordo com o apetite de cada investidor. É um dos ativos que conta com Fundo Garantidor de Créditos, o que assegura o dinheiro do investidor em casos de problema da instituição financeira que gerou o CDB.
- Contras: a maioria dos CDBs não tem liquidez diária, o que demanda disciplina do investidor para carregar o título até o vencimento. Incide imposto de renda e IOF em saques promovidos antes de 30 dias de aplicação.
Fundos de crédito privado
O investidor compra cotas de um fundo que administra aplicações em diversos ativos, que podem ser de renda fixa, produtos ligados ao câmbio, etc. A pessoa delega a tarefa de investir a um profissional que conta com uma carteira diversificada.
- Prós: é uma opção para colocar o investimento na mão de um gestor profissional, habilitado para tomar as melhores decisões com uma carteira diversificada e de acordo com o momento do mercado. Tem algumas opções acessíveis para quem quer começar a investir.
- Contras: como é gerido por um ente privado, costuma contar com taxas de administração. Dá menos autonomia para o investidor por ser administrado por um terceiro. O saque do dinheiro aportado também pode ser mais demorado de acordo com as regras do fundo escolhido.