A economia do Rio Grande do Sul segue com retomada mais intensa no setor terciário. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, serviços e comércio apresentaram crescimento em ritmo maior ante igual período de 2021. A indústria também registrou resultado positivo, mas com menor intensidade.
Os dados fazem parte de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas na semana passada. Espaço maior para recuperação em serviços após o período mais crítico da pandemia e efeito dos juros altos ajudam a explicar o comportamento dos setores neste ano, segundo especialistas. Com sinais de desaceleração na expansão, a tendência é de acomodação na atividade dos setores nos próximos meses.
O setor de serviços acumula alta de 12,2% em 2022 no RS até setembro, mês mais recente na pesquisa do IBGE. Com esse montante, o segmento segue com o maior avanço entre as três principais áreas da economia. Em setembro, serviços cresceram 1% no Estado.
O professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Adalmir Marquetti afirma que esse resultado era esperado. Como os serviços que dependem de atuação presencial e maior circulação de pessoas foram afetados durante a pandemia, é natural que esse setor avance com mais tração na recuperação diante de quadro sanitário melhor, aponta.
— Os serviços foram muito afetados na pandemia. Isso foi observado em diversos segmentos, como hotéis e serviços para as famílias. Então, a gente tem essa recuperação ligada a esse fator — explica.
Dados do IBGE reforçam essa avaliação. No acumulado do ano, o segmento de serviços prestados às famílias avançou 33%. Esse ramo agrega atividades como as de hotelaria e de bares e restaurantes.
Marquetti diz que, de maneira geral, o avanço dos setores começa a mostrar desaceleração no agregado do ano diante de uma normalização após recuperação mais intensa no início da retomada.
Economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank afirma que a diferença do efeito da elevação da taxa de juros em cada um dos setores é outro fator que ajuda a entender o maior fôlego de serviços:
— Os serviços são menos impactados por questões relativas às taxas de juros. É um setor que via de regra é muito mais dependente do comportamento da renda do que da taxa de juros. Isso acaba afetando mais a indústria e o comércio.
Heterogêneo
Já o comércio acumula alta de 8% no Estado em 2022. Conforme o levantamento do IBGE, esse avanço é puxado pelo grupo de combustíveis e lubrificantes, que concentra alta de 26%. Frank avalia que o tamanho do avanço do varejo na pesquisa não conversa com a realidade do setor no Estado. Ele destaca que a retomada do comércio é heterogênea, com destaque para venda de itens diante de uma demanda reprimida:
— Em 2022, aqueles setores que mais sofreram com a pandemia vêm se sobressaindo ao longo deste ano. Sobretudo aquele comércio de bens não essenciais, como a parte de tecidos, vestuário e calçados.
A indústria apresentou variação marcada por certa estabilidade no mês a mês na maior parte do ano. No acumulado de 2022, o setor reverteu quadro negativo do início do ano e avança 1,7%. Como começou o processo de retomada mais cedo, a indústria apresenta expansão menor diante de base de comparação mais forte.
Economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), André Nunes de Nunes afirma que o resultado positivo da indústria no ano é puxado, principalmente, pelo ramo de veículos automotores. Avanço em segmentos ligados a automóveis e de carrocerias de veículos pesados impulsionaram esse movimento, diz. E destaca que, embora não seja ano de expansão robusta, a indústria gaúcha segue acima do nível pré-pandemia:
— Está 2,9% acima do pré-pandemia. Já a produção brasileira está 2,4% abaixo. Não é um ano brilhante, mas a gente consegue ter uma indústria relativamente melhor do que a média nacional.
Pela frente, um cenário desafiador
Especialistas avaliam que a tendência é de desaceleração no avanço dos setores nos próximos meses. Acomodação diante de um espaço de retomada menor e falta de clareza sobre o comportamento da economia do país no próximo ano reforçam essa estimativa, segundo analistas.
O economista-chefe da CDL Porto Alegre afirma que esse processo de desaceleração é normal em serviços diante de avanço robusto, que começa a perder intensidade.
Para os próximos meses, Frank estima cenário desafiador para comércio e serviços diante de alguns problemas, como inadimplência alta, orçamento estrangulado e economia mundial crescendo em ritmo menor. Nesse sentido, o economista reforça a possibilidade de acomodação:
— Também tem menos espaço para ganhos relativos a uma demanda reprimida. Cada vez mais, é observado um processo de normalização. Quando a gente vai normalizando, esse crescimento se torna mais difícil.
Na indústria, em um âmbito geral, o economista-chefe da Fiergs estima um crescimento baixo para o setor no próximo ano. Olhando pelos segmentos do setor, ele cita um cenário heterogêneo, com movimentos diferentes em cada área:
— As exportações, que nos ajudaram muito na recuperação dos últimos anos, tendem a ser menores. Já o setor de agropecuária e produção alimentícia tende a se beneficiar com a melhora da safra — salienta Nunes.
O professor Marquetti, da PUCRS, afirma que o desempenho da atividade econômica para 2023 é marcado por incertezas. O efeito de uma possível recessão mundial, a falta de clareza sobre o futuro da guerra na Ucrânia e a inflação são alguns dos componentes que bancam esse cenário, segundo o economista.