O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) interrompeu nesta quarta-feira (21) uma sequência de 12 altas consecutivas da taxa Selic, iniciada em março do ano passado, para conter os avanços da inflação. Na penúltima reunião de 2022, a decisão do colegiado pela manutenção dos juros básicos da economia brasileira em 13,75% ao ano quebra este que era considerado o ciclo mais longo de elevações desde 1999. Em 17 meses – entre março de 2021 e setembro de 2022 – a escalada chegou a 11,75 pontos percentuais.
Em seu comunicado, o comitê deixou claro que a decisão reflete incertezas ao redor dos cenários e "um balanço de riscos", compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta "ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2023 e, em grau menor, o de 2024". O colegiado, entretanto, não descartou retomar a escalada dos juros, caso a pressão inflacionária volte a dar sinais de persistência:
"O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado"
O economista e professor da Universidade Federal do RS (UFRGS) Marcelo Portugal afirma que são várias as razões que explicam a opção pela estabilidade da taxa. A principal é a queda do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Depois de superar os 12% em 12 meses, o indicador oficial da inflação no país registrou queda nos últimos três e, agora, está em 8,73% no acumulado.
— É um sinal de que o remédio trouxe efeito e não será necessário ampliar a dose para conter a infecção. Tudo indica que a dosagem de juros foi o suficiente para reverter o processo inflacionário que obtivemos em 2021 e 2022. O IPCA deve cair em setembro e no final deste mês. Provavelmente, já teremos algo abaixo de 8% em outubro, de tal forma que tudo indica que não será necessário um novo aperto. Mas resta saber quando começarão as baixas — comenta.
Economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank acrescenta que, quando o assunto é a política monetária, o fator mais relevante a ser considerado é a chamada taxa de juro real (descontada a inflação), e não a nominal (13,75% ao ano). Ou seja, segundo ele, nos atuais patamares e projeções futuras para o IPCA (próximo de 5% em 2023, de acordo com o relatório Focus, do BC), já é possível ser mais duro no combate, sem precisar pesar a mão nos juros.
— Já se consegue ser mais restritivo na política monetária sem aumentar a Selic porque a inflação corrente e as expectativas estão em viés de baixa. Quando calculamos as taxas reais, seja incorporando a inflação de 12 meses para trás ou nos próximos, ainda que se mantenha em 13,75% ao ano, as taxas reais já aumentaram e seguirão aumentando porque a inflação cai — resume.
Ainda assim, Frank diz que é importante não fechar a porta para a necessidade de eventuais novos aumentos no futuro. Isso acontece, na avaliação do economista, porque as incertezas permanecem, seja no âmbito doméstico ou internacional, e ele destaca indefinições quanto às eleições presidenciais, previsão orçamentária para arcar com o aumento do Auxílio Brasil, continuidade da redução de tributos (ICMS dos Estados) sobre itens essenciais (como combustíveis e energia elétrica) e o nível de evolução da atividade econômica mundial:
— Teremos aceleração ou recessão? São muitas perguntas sem respostas, e o BC precisa ser humilde e reconhecer essas dificuldades para ter mais grau de flexibilidade na hora de tomar as decisões. Se sinalizasse que daqui para frente os juros só cairiam, poderia ser muito ruim e aumentaria o custo de fazer com que a inflação convirja para patamares mais comportados — analisa.
Inflação e juros
Na mesma linha de raciocínio, o economista e especialista em alocação de investimentos na Warren Carlos Macedo considera que a manutenção da Selic em 13,75% ao ano “interrompe”, mas pode não “encerrar” o ciclo de altas nos juros. Ele também acredita que há margem para outros aumentos, e o cenário de juros em patamares acima de dois dígitos continuará a moldar o cenário-base da economia nacional por tempo prolongado.
— O BC apostando na defasagem da política monetária, todavia, ainda que a expectativa de inflação para 2023 tenha melhorado a partir de uma inércia menor em 2022, observamos dinâmica forte do setor de serviços e mercado de trabalho, o que coloca em dúvida se a inflação de serviços arrefecerá mesmo nos próximos meses — conclui.
Vicente Guimarães, economista e CEO da VG Research, argumenta que, apesar da inflação em baixa nos últimos meses, o governo não considera que o risco inflacionário está sob total controle. E cita que o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem destacado a manutenção de taxas de juros ainda elevadas, pelo menos até o final de 2023 (11,25%, na maioria das casas de projeções).
— Esse comportamento previdente e zeloso é algo básico na condução da política monetária. Um período de rescaldo é importante e necessário para extinguir qualquer foco de incêndio inflacionário — pontua.