A procura por gás natural veicular (GNV) apresenta ritmo menor no Rio Grande do Sul neste ano. O total de adaptações de veículos para GNV caiu cerca de 30% no acumulado de janeiro a maio deste ano ante o mesmo período de 2021. Essa queda aparece em levantamento do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS). Aumento do valor desse combustível nos últimos meses e, consequentemente, a diminuição da margem de competitividade em relação à gasolina ajudam a explicar esse movimento, segundo integrantes do setor.
Nos cinco primeiros meses do ano, o Estado registrou 1.681 conversões de veículos para GNV — 686 a menos em relação ao mesmo recorte de tempo do ano anterior, segundo os dados do Detran-RS.
Gerente de Grandes Consumidores da Companhia de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás), Cristiano Roberto Fuchs Rickmann afirma que esse movimento ocorre diante do aumento de preços do produto para distribuição após repasse da Petrobras. Rickmann destaca que os reajustes que impactam no custo final do GNV desestimulam a procura pelas conversões:
— Toda vez que a competitividade cai, a gente tem um primeiro impacto nas conversões. O gás natural ainda está competitivo, tem um ganho de rendimento de 20% a 30%, mas tem a questão do investimento inicial. Então, esse ganho só paga o kit se o veículo rodar muito. Quanto mais essa relação fica estreita, as conversões caem.
A retração no número de adaptações ocorre em paralelo aos últimos reajustes no preço do GNV. Entre a primeira semana de janeiro deste ano e o início de julho, o preço médio do metro cúbico do produto cresceu 33% no Estado, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Com a sequência de alterações no valor, o metro cúbico ultrapassou a barreira dos R$ 6, chegando em nível próximo do litro da gasolina, levando em conta apenas números absolutos.
O gerente da Sulgás salienta que, mesmo com diferença menor em relação ao preço da gasolina, o GNV segue mais vantajoso entre as opções dos motoristas com maior rodagem. Ele afirma que o valor maior nos postos afasta consumidores novos, que não estudam a eventual vantagem no custo benefício de acordo com seu perfil.
— O cliente que já usa gás natural tem a conta na ponta do lápis. Já sabe exatamente qual é a economia. Geralmente é um veículo que roda bastante, de um cliente que usa o carro para trabalhar, de empresas, frotas. Então, mesmo com uma economia menor, na casa dos 20% a 30%, para um cliente que roda muito, o gás natural ainda é interessante — explica Rickmann.
A presidente do Sindicato dos Motoristas em Transportes Privados por Aplicativos do Estado do Rio Grande do Sul (Simtrapli-RS), Carina Trindade, afirma que os preços mais altos seguem pressionando a categoria. Nesse cenário, os profissionais que trabalham com o transporte de pessoas sofrem ainda mais para reduzir gastos e obter renda mais adequada:
— É um valor que a gente não está conseguindo obter de volta em pouco tempo. Aumentou o período para os motoristas conseguirem vantagem usando essa opção que é o GNV.
O tema é o centro de um movimento de integrantes do setor de instalação de GNV e de usuários. Em maio, as categorias realizaram protesto em Porto Alegre. Um dos itens da pauta é a aprovação do projeto de lei que reduz em 50% as alíquotas de Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para os veículos movidos a gás natural veicular. A inclusão dos motoristas de aplicativo no rol de isenções do pagamento desse imposto também é pleiteada na mobilização. As reivindicações estão presentes em projetos na Assembleia Legislativa.
O presidente do Sindicato dos Taxistas (Sintáxi) de Porto Alegre, Luiz Nozari, afirma que a categoria havia apostado no GNV para diminuir os custos da tarifa. No entanto, os últimos reajustes estão invertendo esse cenário, dificultando o dia a dia dos trabalhadores, que precisam investir nos kits e em manutenção:
— O custo nos afetou diretamente, e nós estamos tentando sobreviver.
Impactos nas oficinas
Um dos primeiros a sentirem a redução na busca por GNV, o segmento das oficinas que instalam os kits nos veículos também sofre com os efeitos desse movimento. Empresários relatam menos apetite pela conversão em um cenário de preços do GNV e da gasolina com pouca diferença. O setor reforça que esse fato afasta potenciais novos clientes, que ainda não utilizam o gás natural veicular e não avaliam o rendimento maior.
Proprietário da Power Gáz, empresa que instala kits GNV em Canoas, na Região Metropolitana, Evandro Batista Brum, 44 anos, é um dos empresários que enfrentam essa redução na procura por conversões. Brum afirma que a queda começou com mais força nos primeiros meses do ano. Em dezembro, o negócio realizava cerca de 12 a 15 conversões por semana. Atualmente, esse montante caiu para cerca de duas a três, segundo o empresário, que atua no ramo desde 2001.
— Impacta tudo. Em redução do número de funcionários. No capital de giro da empresa no mercado. Impacta bastante — afirma Brum.
Nas últimas semanas, a redução de impostos teve impacto sobre os preços do GNV e de outros combustíveis em algumas regiões. O gerente de Grandes Consumidores da Sulgás avalia que esse movimento não significa grande impacto na procura pelo gás natural para veículos. Isso porque a redução também afeta a gasolina, o que mantém certa redução na competitividade:
— A gente precisa ver como vai ficar a relação entre gasolina e GNV. Em tese, o preço da gasolina também vai cair, então, acaba igualando.