A Justiça de São Paulo decretou nessa quarta-feira (8) a falência da rede varejista Ricardo Eletro. A decisão ocorre dois dias após o pedido de recuperação judicial da companhia. O grupo recorreu da decisão na quinta-feira (9). As informações são do jornal Valor Econômico.
O juiz Leonardo Fernandes dos Santos, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais, determinou a falência da companhia por conta do "esvaziamento patrimonial" da empresa, o que leva à inviabilidade financeira do negócio. O endividamento total da empresa, incluindo passivos em recuperação, era de cerca de R$ 4,6 bilhões desde o fim do ano passado
Nas últimas horas antes da decisão judicial, a companhia tentou reverter a situação ao entrar com um recurso junto a 2ª Câmara de Direito Empresarial de São Paulo, mas não conseguiu modificar a decisão.
De acordo com o jornal Valor Econômico, o grupo varejista alega surpresa com a decisão e justifica que o esvaziamento refere-se ao "ajuste contábil feito pela baixa de estoque operacional decorrente do fechamento de lojas, e como é esperado, houve ajuste para saldo de estoque". A companhia nega que tenha ocorrido esvaziamento por fraude ou desvio de valores.
Segundo documentação arquivada do processo, não houve pedido de falência por parte dos credores. A empresa fechou o restante das lojas (cerca de 300) que possuía no segundo semestre de 2020 e passou a operar apenas pelo site, com pequena disponibilidade de produtos. "Além disso, acrescente-se o fato de que, no momento de fechamento das lojas, boa parte do estoque foi vendido em 'queima' para geração de caixa e liquidez imediata", diz trecho de recurso encaminhado pelo grupo na quinta-feira.
No novo recurso encaminhado, a empresa ainda afirma que a decisão judicial gera maior insegurança para a marca e que o grupo busca a retomada de suas atividades com plano de recuperação judicial e reestruturação das dívidas.
O plano de recuperação da empresa chegou a ser aprovado em 16 de setembro de 2021, mas a homologação foi suspensa pela Justiça de São Paulo em razão de liminares concedidas pelo juiz do caso.
Ricardo Eletro: da origem à falência
A rede de varejos Ricardo Eletro foi fundada em 1989 pelo empresário Ricardo Nunes. O grupo é presidido por Pedro Bianchi, ex-executivo da empresa de reestruturação Starboard.
A Máquina de Vendas Brasil — dona do grupo — é controlada pela MV Participações, que tem 93% de suas ações nas mãos de um fundo de participações.
A partir de 2015 a Máquina de Vendas Brasil começou a apresentar problemas financeiros, recorrendo à renegociação de dívidas, pagamentos prolongados e busca de capital no mercado. A situação se agravou ainda mais com as crises econômicas de 2016 e 2020, que afetaram diretamente o consumo.
Em 2018, Ricardo Nunes, um dos últimos sócios da formação original do negócio, deixou a sociedade e chegou a ser preso sob acusação de sonegação, mas foi solto pouco tempo depois de ter prestado depoimento.
No seu auge, a Ricardo Eletro chegou a ser a segunda maior cadeia de eletrônicos do país em número de lojas.