O novo aumento da Selic, confirmado pelo Banco Central (BC), nesta quarta-feira (15), mantém o cenário de acesso ao crédito sufocado e de atratividade no investimento em renda fixa. A 11ª alta consecutiva na taxa de juro básico ficou no patamar de 0,5 ponto percentual, elevando a Selic de 12,75% para 13,25% ao ano, maior nível desde dezembro de 2016.
A manutenção do juro em nível mais elevado mantém o custo do crédito mais alto. Com isso, consumidores e empresas diminuem o apetite por financiamento para compra de bens diante de taxas mais elevadas na esteira da curva da Selic. O uso de ferramentas emergenciais para equilibrar ou amenizar as contas, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, também fica mais perigoso na hora de organizar o orçamento.
Nos investimentos, o juro básico em trajetória ascendente torna a renda fixa mais atrativa, porque a Selic é referência para aplicações financeiras nesse modelo. Ativos como o Tesouro Direto e CDBs ganham protagonismo dentro desse processo, segundo especialistas.
— Como o risco do mercado fica muito volátil, há uma cautela maior em quem investe dinheiro. Esse investidor prefere aplicações com prazo um pouco mais curto e muito mais conservadoras. Isso provoca menos apetite para renda variável e mais conservadorismo — explica Andrew Frank Storfer, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
O economista Fábio Astrauskas, diretor na Siegen Consultoria, afirma que a nova elevação não provoca mudança brusca individualmente. No entanto, ele destaca que o novo aumento na Selic provoca a manutenção desse cenário nos investimentos.
— O investidor foi vendo, mês a mês, as aplicações em renda fixa ficarem mais atrativas. Esses títulos foram ficando progressivamente mais atrativos e continuarão assim.
O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, afirma que, se os aportes em renda fixa seguem em alta, por outro lado, a busca por renda variável perde espaço. Sung explica que o juro alto desestimula a economia, contribuindo para essa migração nas aplicações.
— Os juros elevados aumentam o custo do crédito para as empresas, as despesas financeiras e o crédito para consumo. Isso afeta fábricas, consumo e endividamento. A própria economia cresce menos — explica Sung.
A Anefac destaca que as cadernetas de poupança continuam interessantes em relação aos fundos de renda fixa, principalmente os que contam com taxas de administração superiores a 2,50% ao ano. Isso ocorre porque a poupança não conta com tributação de imposto de renda, como ocorre em alguns fundos.
Crédito mais caro
Na parte do crédito, especialistas afirmam que essa nova alta individualmente não tem tanto peso nas operações. No entanto, o ciclo de elevações segue pressionando a busca por essa ferramenta.
O diretor-executivo da Anefac destaca que, além de tornar o crédito mais caro, a Selic mais alta dificulta o acesso a esse mecanismo. Isso ocorre diante de um cenário de risco maior e de incerteza na economia, que limita a oferta por parte dos bancos.
— O crédito também fica mais difícil de ser obtido, fica mais escasso. As garantias são maiores e os bancos tem menos proporção de financiamento, de empréstimo. Ele passa a ter um crédito mais restrito — salienta Storfer.
Além de afetar operações de crédito mais corriqueiras, o juro alto também afeta, principalmente, o acesso a financiamentos com valores maiores. Com isso, a busca por bens duráveis acaba arrefecendo, segundo o economista Fábio Astrauskas:
— O que a gente vê é um desestímulo para a pessoa que está querendo adquirir imóvel ou automóvel. Ela encontra juros mais altos no financiamento desses bens. Isso já estava acontecendo nos últimos meses e vai continuar assim. No médio prazo, isso impacta no crescimento econômico do país.
Algumas simulações com a Selic mais alta
CRÉDITO
Cheque especial
Uso por 20 dias de R$ 1 mil
- Com Selic de 12,75%
Taxa mensal: 7,94%
Valor do juro: R$ 52,93
- Com Selic de 13,25%
Taxa mensal: 7,98%
Valor do juro: R$ 53,20
Elevação de R$ 0,27
Cartão de crédito rotativo
Utilização do rotativo por 30 dias de R$ 3 mil
- Com Selic de 12,75%
Taxa mensal: 13,79%
Valor do juro: R$ 413,70
- Com Selic de 13,25%
Taxa mensal: 13,83%
Valor do juro: R$ 414,90
Elevação de R$ 1,20
Juros do comércio
Compra de uma geladeira de R$ 1,5 mil em financiamento de 12 meses
- Com Selic de 12,75%
Taxa mensal: 5,27%
Valor da parcela: R$ 171,82
Valor total: R$ 2.061,90
- Com Selic de 13,25%
Taxa mensal: 5,31%
Valor da parcela: R$ 172,21
Valor total: R$ 2.066,52
Elevação no mês: R$ 0,38
Elevação total: R$ 4,62
INVESTIMENTO
Como ficaria uma aplicação financeira no valor de R$ 10 mil pelo prazo 12 meses com Selic de 13,25% ao ano
- Poupança antiga
Rendimento: R$ 770,00
Total aplicado: R$ 10.770,00
- Poupança nova
Rendimento: R$ 770,00
Total aplicado: R$ 10.770,00
- Fundo de investimento com taxa de administração de 0,5% ao ano
Rendimento: R$ 1.003,00
Total aplicado: R$ 11.003,00
- Fundo de investimento com taxa de administração de 1% ao ano
Rendimento: R$ 938,00
Total aplicado: R$ 10.938,00
- Fundo de investimento com taxa de administração de 2% ao ano
Rendimento: R$ 834,00
Total aplicado: R$ 10.834,00
- Fundo de investimento com taxa de administração de 2,5% ao ano
Rendimento: R$ 770,00
Total aplicado: R$ 10.770,00
Fonte: Anefac