Em mais um mês com inflação avançando, alimentos e transporte têm destaque na alta de preços na região metropolitana de Porto Alegre em abril. Morango, transporte por aplicativo e tomate estão entre os itens que carregam as maiores elevações, levando em conta somente a variação geral no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (11). O IPCA ficou em 1,13% na Grande Porto Alegre, nível acima da média nacional.
Na parte dos alimentos, a ponta do ranking é ocupada por morango, tomate e batata-inglesa. No ramo de itens não alimentícios, transporte por aplicativo, passagem aérea e produtos farmacêuticos anotam os maiores saltos (veja mais abaixo).
Dos nove grupos pesquisados no IPCA, sete apresentaram crescimento em abril na Região Metropolitana. Alimentação e bebidas carregam a maior contribuição entre os segmentos no mês, com variação de 2,36% e impacto de 0,50 ponto percentual (p.p). O leite longa vida apresentou a maior participação, com variação de 10,49%.
Na sequência, o grupo dos transportes (1,95%) foi responsável pelo segundo maior impacto em abril. O resultado foi influenciado principalmente pelo preço dos combustíveis (2,60%). A gasolina subiu 2,53% e teve o maior impacto individual no índice do mês, segundo o IBGE. O diesel (4,75%), que tem efeito cascata em diversos setores da economia, também avançou.
Marcos Lélis, professor da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, afirma que a alta nos preços das commodities, dólar em alta e fertilizantes mais caros são alguns dos fatores que pressionam os preços de alimentos e do transporte. O câmbio e as commodities acabam respingando na política de preços da Petrobras, que eleva os valores dos combustíveis, segundo Lélis. O especialista destaca que essa alta nos preços preocupa porque acaba corroendo ainda mais o orçamento das famílias, desestimulando a economia:
— A participação dos bens essenciais no consumo aumenta cada vez mais e cada vez sobra menos dinheiro, menos renda para comprar outros bens. Com isso, a atividade econômica fica fraca e a inflação começa a bater também em desemprego e no crescimento da produção industrial.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, afirma que, além dos custos de produção, questões climáticas e a elevação do preço dos combustíveis pesam na variação de valor dos alimentos.
— Preço de combustíveis aumenta o valor dos alimentos. O alimento é transportado para a indústria e depois para o varejo. Toda vez que aumentam os custos com combustíveis, isso impacta no preço dos alimentos — explica o economista-chefe da Farsul.
Desaceleração, mas em alta
A inflação diminuiu o ritmo na região metropolitana de Porto Alegre, mas registrou nova alta no ano. A variação de abril é 0,48 ponto percentual menor em relação a março, mas é a maior para abril desde 2005, quando o indicador ficou em 1,87%. O crescimento ocorre em nível acima do IPCA do país, que ficou em 1,06% em abril.
No ano, o IPCA acumula alta de 2,65% na Grande Porto Alegre. Nos últimos 12 meses, o indicador subiu para 11,42%. Nesses dois recortes, a Região Metropolitana está atrás da média brasileira (veja mais abaixo).
O professor da Unisinos Marcos Lélis afirma que, mesmo em desaceleração, a inflação deverá seguir pressionando a economia nos próximos meses. Dólar elevado é um dos pontos destacados pelo economista nesta estimativa:
— Esse câmbio provavelmente não vai arrefecer nos próximos meses porque a gente vai continuar vendo a taxa de juros americana subir, preço do petróleo acomodado (em nível alto e com volatilidade). Então, vamos continuar observando alguns repiques na inflação — pontua Lélis.
O economista-chefe da Farsul afirma que a inflação em patamar menor poderá ser observada apenas em meados de 2023. No entanto, Antônio da Luz reforça que a desaceleração da inflação significa apenas perda de ritmo nos aumentos de preço, e não recuo:
— Lá pelo meio do ano que vem, mais ou menos, vamos conseguir ter números mais próximos daquilo que nós estamos acostumados na inflação. Mas os preços voltarem a ser o que eram? Esquece.