O número de pedidos de seguro-desemprego no Rio Grande do Sul fechou 2021 em queda. O total de solicitações recuou 17,5% no acumulado de janeiro a dezembro no Estado ante igual período de 2020. Os dados estão presentes em painel do Ministério do Trabalho e Previdência. Retomada do emprego após período mais profundo dos impactos da pandemia na economia e baixa permanência em alguns cargos ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas. O seguro-desemprego é um benefício destinado a trabalhadores formais demitidos sem justa causa.
O Estado registrou 346.021 requerimentos de seguro-desemprego em 2021. No ano anterior, fechou em 419.458. Os números de 2021 também são menores em relação a 2019, ano sem os efeitos da crise sanitária (confira gráfico abaixo).
A economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), afirma que a desaceleração no ritmo de pedidos está diretamente ligada ao cenário do mercado de trabalho em 2021. Retomada das contratações com tração maior em relação às demissões criou ambiente para encolhimento nas estatísticas de busca pelo benefício, avalia.
— Na medida em que as pessoas vão conseguindo se empregar, há menor procura pelo seguro-desemprego. Por conta dessa empregabilidade, muitas vezes, as pessoas não precisam recorrer. Ela fica desempregada, mas consegue um emprego em seguida, principalmente nos setores que mais empregam — diz Maria Carolina.
Dados referentes ao emprego no Estado corroboram a análise da professora da UCS. Em 2021, no acumulado até novembro, o Estado acumula abertura de 159.082 postos com carteira assinada, segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência. Informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) trimestral, que também leva em conta os informais, mostram que o total de trabalhadores gaúchos ocupados saltou de 5,1 milhões, no terceiro trimestre de 2020, para 5,5 milhões, no terceiro trimestre de 2021. Já o total de desempregados diminuiu de 601 mil para 512 mil.
O movimento de queda nos pedidos observado no Estado vai na esteira do desempenho nacional, mas com trote maior. No Brasil, o total de solicitações do benefício caiu de 6,78 milhões, em 2020, para 6,08 milhões em 2021 – recuo de 10%. O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, também cita o ambiente de recomposição de vagas como principal motivo para a queda no indicador. Em relação ao ritmo maior no Rio Grande do Sul na comparação com o país, Frank menciona a diferença entre o desempenho da economia do Estado frente à média nacional.
— Em 2021, a gente teve uma safra mágica, espetacular, extremamente rentável e isso fez com que a gente tenha essa diferença maior na economia do Rio Grande do Sul na comparação com a média brasileira — aponta.
Segmentos
Olhando os dados por setores, serviços e comércio lideram no levantamento de pedidos de seguro-desemprego em 2021. Juntos, são responsáveis por 63,5% do total de requerimentos no Estado. Frank afirma que é um movimento normal, pois esses dois setores são os que mais empregam na estrutura econômica nacional. E reagem com mais intensidade aos movimentos do mercado de trabalho.
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e especialista em mercado de trabalho Lúcia Garcia, destaca que essa retomada do emprego ocorre diante de vagas com menor qualidade. Além dessa recomposição de postos, a rotatividade em alguns cargos também encorpa a queda dos pedidos do benefício, acrescenta.
— Os pedidos de seguro-desemprego também vão caindo não só por elementos conjunturais, mas também porque os trabalhadores têm permanecido menos tempo nos postos de trabalho. Isso faz com que a habilitação do trabalhador para receber o seguro não seja alcançada — explica Lúcia.
Fragilidade em 2022
Persistência de inflação e juro alto e instabilidades na economia causadas pela corrida eleitoral podem desacelerar a queda no total de pedidos de seguro-desemprego no Estado e no país, segundo especialistas. A ferramenta costuma ser um dos primeiros socorros ao trabalhador que é demitido, possibilidade que aumenta em momentos de crise econômica.
O economista-chefe da CDL de Porto Alegre, Oscar Frank, estima que essa trajetória de queda pode ser afetada em cenário sem condições ideais para aquecimento do mercado de trabalho em 2022:
— Se a economia cresce pouco, naturalmente as perspectivas para o mercado de trabalho são mais desanimadoras. Se a perspectiva para o mercado de trabalho é mais desanimadora, deve existir uma pressão em termos de pedidos de seguro-desemprego.
Frank destaca que essa pressão não significa explosão nos requerimentos, mas aumento nos pleitos diante de um mercado de trabalho mais frágil, o que pode aproximar o total de solicitações para patamares de um passado próximo.
— A gente tem pouco espaço para repetir uma queda como essa (de 2021) em 2022, porque a perspectiva para o mercado não é animadora — comenta o economista-chefe da CDL de Porto Alegre.
A economista Lúcia Garcia, do Dieese, estima que o montante de pedidos do benefício deverá voltar a patamares do período pré-pandemia, com certa estabilidade.
Ela destaca que isso ocorre diante da continuidade de tendências da dinâmica do mercado de trabalho atual, como recuperação do emprego baseada em postos de menor qualidade.
— As tendências que estamos desenhando aqui tendem a se aprofundar. Crise econômica, poucos trabalhadores com elegibilidade para acessar o seguro-desemprego e aumento das possibilidades de trabalhos ocasionais, que reforçam uma vida precarizada — pontua Lúcia.