A Petrobras anunciou que, a partir desta quarta-feira (15), o preço médio de venda da gasolina sem etanol, na porta das refinarias para as distribuidoras, passará de R$ 3,19 a R$ 3,09 por litro. Com a redução média de R$ 0,10 por litro, a queda chegará a 3,14%. O movimento reanima o setor de combustíveis no Estado, mas especialistas alertam que a expectativa por um novo ciclo de baixas deve ficar restrita ao curto prazo.
João Luiz Zuñeda, diretor da consultoria do setor petroquímico Maxiquim, explica que isso poderá ocorrer porque as projeções de importantes centros de análise mundiais recolocam a cotação do barril de petróleo no patamar de US$ 100 para o próximo ano.
— No curto prazo o preço do petróleo e da gasolina parece ter encontrado equilíbrio. De janeiro a fevereiro, não haverá pressão tão elevada sobre os preços. Em três meses, a tendência é de redução para os derivados. Mas não imagino quedas de ajuste tão forte nas bombas — argumenta.
No entanto, ele explica que boa parte das projeções internacionais prevê mais desequilíbrio estrutural na oferta, principalmente, em razão da desaceleração dos investimentos em novas plataformas de extração. O motivo: a pressa do governo dos Estados Unidos, maior produtor, em realizar a transição para a chamada energética limpa.
— Quando se sinaliza isso, os investidores se retraem. O cenário é de contrário para o petróleo, o que faz com que alguns países aumentem a sua produção para aproveitar o preço mais elevado do momento — acrescenta.
Ajuste de oferta
Para o consultor da Maxiquim, João Carlos Zuñeda, o panorama de longo prazo é marcado por preços cada vez mais altos. E, com o petróleo caro, a Petrobras passa a viver novo dilema, ou seja, para evitar o risco de desabastecimento não pode baixar tanto o preço de sua gasolina, porque isso implicaria em prejudicar as importações.
Como grande quantidade da gasolina nacional vem de fora, sem ajustes entre oferta e demanda, começam os problemas, pois os demais produtores também encontram dificuldades no mercado externo e os exportadores não acham condições adequadas para vendas no Brasil. Zuñeda explica que esse equilíbrio da oferta é fundamental.
— O que precisamos: de gasolina mais barata do que no mercado internacional, mas em condições insuficientes para o mercado interno, ou de uma gasolina próxima ao preço de paridade internacional e ter gasolina no mercado interno? — questiona.
De acordo com o especialista, não há outra saída. E quando a tendência de médio e longo prazo aponta para o barril do petróleo em alta, resta apenas “torcer” para que o dólar também não suba mais.
Por isso, ele sustenta que o cenário de curto prazo “é interessante”, mas não deverá gerar remarcações “abruptas” de preços para baixo. Isso acontece, segundo ele, porque a Petrobrás, assim como as demais produtoras do país, já atuavam com margens bastante reduzidas, apesar do alto preço praticados nas bombas.
"Sinalização positiva", diz presidente do Sulpetro
De acordo com o presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes (Sulpetro), João Carlos Dal'Aqua, a redução anunciada pela Petrobras nesta terça trata-se de uma “sinalização positiva” de que o ciclo de aumentos “talvez” tenha atingido o seu pico:
— Nos atrai a ideia de que possamos estar num processo de retorno aos patamares mais baixos. Não é só a Petrobras, é preciso avaliar o anidro que é misturado na gasolina e, neste momento, está em recuo. A sinalização é importante, porque até agora tínhamos um cenário de elevação frequente para cima. Tomara que isso se concretize em algo para baixo.
Apesar de não cravar uma data para que os novos preços possam beneficiar os consumidores gaúchos, Dal'Aqua afirma que isso deve acontecer de maneira rápida, apressada pela alta concorrência no segmento.
— É cedo para falar em valores e em quando, porque cada região tem uma concorrência, cada posto tem a sua estratégia — salienta.
Dal'Aqua também lembra que apesar do otimismo, a gasolina é influenciada pelo petróleo que, por sua vez, é afetado pela variação cambial e a também a tributação. Pelo menos no que se refere ao último aspecto, em 2022, diz, o Rio Grande do Sul tem um cenário positivo pela frente, em razão do fim da chamada alíquota majorada do ICMS que incide sobre os combustíveis.
— Isso independe da Petrobras, mas talvez, tenhamos passado o momento mais crítico — sustenta.