Os produtos in natura influenciaram na queda de preço da cesta básica de Porto Alegre no último mês. Relatório divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) ontem, mostrou que o conjunto de 13 itens ficou 0,83% mais barato em novembro, quando comparado com o levantamento de outubro. Em reais, o conjunto de produtos fechou novembro custando R$ 685,32, o que representa 67,35% do salário mínimo. Essa é a segunda vez no ano que a cesta básica apresenta queda de preço. O fato não ocorria desde março, quando houve queda de 1,47% na soma dos alimentos.
Segundo o Dieese, o relatório divulgado mensalmente divide os itens em três setores: produtos in natura, semielaborados e industrializados. A primeira categoria, que inclui feijão, batata, tomate e banana, reduziu 3,02% os preços. Os semielaborados — carne, leite e arroz — reduziram 0,16%. Enquanto isso, os industrializados subiram 0,76%. Neste setor, entram farinha de trigo, pão, açúcar, óleo de soja, manteiga e café.
O grão torrado que é bebida quente tradicionalíssima dos brasileiros, aliás, foi o item que mais subiu de valor entre todos da cesta básica no último mês. O salto foi de 10,02% na comparação de novembro com outubro. Só em 2021, o café acumula alta de 51,52%, ficando atrás apenas do açúcar (alta de 59,93% neste ano) e do tomate, que está 53,72% mais caro do que em janeiro.
Na Capital, entre os 13 itens que compõem a cesta básica, sete ficaram mais caros na comparação mensal. Além do café, tiveram acréscimo de preço óleo de soja, açúcar, manteiga, farinha de trigo, carne e banana. No outro lado, seis ficaram mais baratos: batata, tomate, leite, pão, feijão e arroz.
Economista-chefe do Dieese no Rio Grande do Sul, Daniela Sandi explica que a alta do café está ligada ao fato de o produto ser uma commodity cotada no mercado global, com preços futuros em alta. Em seu relatório, o Dieese aponta que "a preocupação com o clima, ou seja, com impactos da geada na safra 2022/2023, repercutiu nos preços do café, tanto no mercado futuro quanto no varejo".
— Recentemente, o indicador CEPEA/ESALQ do café arábica tipo 6, posto na capital paulista, fechou a R$ 1.466,92 a saca de 60 kg. É o maior patamar real desde 20 de dezembro de 1999 e novo recorde nominal da série histórica do Cepea, iniciada em 1996. E a expectativa é de preços ainda maiores — projeta Daniela.
Principais responsáveis por baixar o preço da cesta em novembro, a batata (queda de 4,99%) e o tomate (queda de 4,62%), apresentaram essa queda de valor em razão da melhora na oferta dos produtos ao mercado. A colheita da safra da batata e o aumento das temperaturas, acerando a maturação do tomate, explicam um pouco desse incremento na oferta, conforme a economista do Dieese:
— É início da safra de verão e intensificação da colheita em alguns Estados, então, aumenta a oferta.
Aumentos acumulados são superiores a inflação do período
No acumulado de 2021, a cesta básica de Porto Alegre está 11,31% mais cara. A inflação de novembro ainda não foi divulgada pelo IBGE, mas o acumulado do país até outubro é menor do que o índice da cesta básica. O IPCA, que mede a inflação do país, estava em 8,24% neste ano, conforme o último levantamento publicado com dados de outubro. Em 12 meses, a cesta da Capital ficou 11,07% mais cara — a inflação no mesmo período, até outubro, é de 10,67%.
O Dieese estima qual seria o salário mínimo necessário para uma família brasileira. No relatório mais recente, o valor era R$ 5.969,17, mais de cinco vezes o salário mínimo atual, de R$ 1.100.