Após dizer que a Petrobras "só dá dor de cabeça" e pedir à equipe econômica para estudar a possibilidade de privatizá-la, o presidente Jair Bolsonaro indicou nesta quinta-feira (28) disposição de alterar a atual política de preços de combustíveis da estatal e afirmou que a companhia precisa reduzir sua margem de lucro.
As críticas foram feitas em live, depois do fechamento do mercado financeiro no Brasil. Em geral, o presidente realiza a transmissão às 19h, mas desta vez a antecipou em razão de viagem à Itália, onde participará da cúpula do G20.
— A Petrobras é obrigada a aumentar o preço, porque ela tem que seguir a legislação. E nós estamos tentando buscar maneiras de mudar a lei nesse sentido — afirmou Bolsonaro. — Ninguém entende o preço do combustível estar atrelado ao dólar — acrescentou.
O que o presidente chama de lei é, na realidade, a regra utilizada pela estatal como política de preços dos combustíveis no país. Desde 2016, a Petrobras adota a chamada Política de Preços de Paridade de Importação (PPI), que vincula o preço do petróleo ao mercado internacional tendo como referência a cotação do barril tipo brent, que é calculado em dólar. Ou seja, leva em conta o câmbio e o valor do barril de petróleo no Exterior.
Bolsonaro acrescentou que a Petrobras precisa ter papel social e não pode dar lucro tão alto.
— Tem que ser empresa que dê lucro não muito alto, como tem dado. Além de lucro alto para acionista, a Petrobras está pagando dívidas bilionárias de assaltos que aconteceram há pouco tempo — afirmou na transmissão, sem considerar que o principal acionista da companhia é o próprio governo.
Ele ressaltou, no entanto, que o governo federal não vai romper contratos e voltou a sinalizar uma possível privatização da Petrobras:
— Ninguém vai quebrar contrato, ninguém vai inventar nada. Falei pro Paulo Guedes (ministro da Economia) botar a Petrobras no radar de uma possível privatização. Se é uma empresa que exerce o monopólio, ela tem que ter o seu viés social, no bom sentido.
Lucro de R$ 31,142 bilhões
As declarações de Bolsonaro foram feitas cerca de uma hora e meia antes de a estatal divulgar lucro líquido de R$ 31,142 bilhões no terceiro trimestre deste ano, revertendo prejuízo de R$ 1,546 bilhão em igual período de 2020. No segundo trimestre de 2021, o ganho havia chegado a R$ 42,9 bilhões.
A empresa se beneficia da expressiva alta do petróleo. De julho a setembro, o barril do tipo brent foi negociado, em média, a US$ 72.
Nos mesmos meses de 2020, a cotação média foi de US$ 44. E a retomada do consumo da gasolina e óleo diesel, à medida que a vacinação avança, também ajudaram a petrolífera a engordar o caixa. Além disso, a estatal contou com dinheiro extra que entrou com acordo firmado com sócios chineses no pré-sal e benefícios tributários.
A estatal informou também ter aprovado o pagamento de nova antecipação da remuneração aos acionistas relativa ao exercício de 2021, no valor de R$ 31,8 bilhões, equivalente a R$ 2,437865 bruto por ação preferencial e ordinária em circulação. Esse repasse se soma aos R$ 31,6 bilhões anunciados em agosto, totalizando R$ 63,4 bilhões.
Conforme a empresa, a distribuição "considera as perspectivas de resultado e geração de caixa da Petrobras para o ano de 2021, sendo compatível com a sustentabilidade financeira da companhia, sem comprometer a trajetória de redução de seu endividamento e sua liquidez, em linha com os princípios da Política de Remuneração aos Acionistas". O valor adicional será pago em dezembro.
Antes da fala presidencial e do anúncio do lucro líquido, a ação preferencial da Petrobras na B3 fechou em alta de 0,94%. Porém, à medida que se tomava conhecimento dos planos de Bolsonaro para a estatal, o papel da companhia negociado no after market da Bolsa de Nova York despencou cerca de 4%. No pregão regular nova-iorquino, havia avançado 0,67%.