A ignorância do presidente Jair Bolsonaro em relação à política de preços dos combustíveis criou a armadilha em que ele se encontra hoje, de ser responsabilizado pelos sucessivos aumentos, o que impacta na sua popularidade e pode subtrair votos na eleição de 2022. No mais recente, adiantado por Bolsonaro na sexta-feira (22) e confirmado nesta segunda (25) pela Petrobras, o litro de gasolina terá alta de 7,04% nas refinarias e do diesel, de 9,15%. Em 19 de fevereiro deste ano, quando demitiu o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e nomeou o general Joaquim Silva e Luna para seu lugar, Bolsonaro puxou a crise para dentro do Palácio do Planalto.
À época, o presidente achava que os sucessivos aumentos de preço dos combustíveis eram culpa de Castello Branco e que bastaria trocá-lo por um general que a situação se acomodaria. Ignorava que a política de preços da Petrobras é atrelada ao valor do barril do petróleo e à cotação do dólar. Sim, o governo poderia intervir, mas causaria uma crise na estatal, como já ocorrera no governo de Dilma Rousseff.
Como Silva e Luna não conseguiu baixar os preços, Bolsonaro foi convencido de que não poderia promover uma intervenção. Apontou dois caminhos: privatizar a Petrobras, para se livrar da responsabilidade, e culpar os governadores, alegando que é o ICMS que encarece o preço na bomba. Como a alíquota de ICMS é a mesma de antes da posse, só os torcedores fanáticos compraram a versão de que a culpa é dos governadores, seres insensíveis que se recusam a zerar o imposto.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), propôs uma solução intermediária: calcular o ICMS sobre o preço cobrado há dois anos, o que daria um alívio de 8% no bolso do consumidor. Os governadores estrilaram e o projeto aprovado na Câmara corre o risco de não passar no Senado. Mesmo que passe, esses 8% podem ser engolidos já na correção seguinte.
Vender a Petrobras, constatou Bolsonaro, não é simples nem rápido. Daí que o presidente tirou da cartola outra carta mágica: oferecer um auxílio mensal de R$ 400 para os caminhoneiros autônomos, mesmo que isso signifique aprofundar ainda mais o rombo das contas públicas. Nem os caminhoneiros gostaram, porque alegam que esses R$ 400 somem diante de novos aumentos.
Desde o início do ano, a Petrobras já reajustou o diesel 13 vezes (aumento acumulado de 65,3%) e a gasolina 15 vezes (alta de 73,4%). Quem, trabalhador do setor público ou privado, autônomo ou empresário conseguiu um crescimento de renda desse nível, sem ganhar na loteria? Os combustíveis subiram cerca de sete vezes a inflação oficial, que ultrapassou dois dígitos e fica abaixo do que a maioria das pessoas sentem na vida real, até pelo impacto dos preços administrados (combustíveis e energia elétrica, principalmente).
Aliás
Para que os combustíveis parem de subir em níveis estratosféricos, o melhor que o governo tem a fazer é evitar a instabilidade política que faz o real perder valor, já que não pode segurar os preços internacionais do petróleo.