Em movimento mais intenso, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), elevou o juro básico, nesta quarta-feira (27), em 1,50 ponto percentual. Com o reajuste, a Selic passa para 7,75% ao ano após a decisão do comitê. Essa é a sexta alta seguida na taxa. Com a atualização, a Selic atinge o maior patamar em quatro anos. Em outubro de 2017, a taxa ficou em 7,50%.
Em relatório, o Copom cita que eventuais novos prolongamentos de políticas fiscais de resposta à pandemia podem piorar trajetória fiscal e elevar os risco do país. Para a próxima reunião, o comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude.
“O Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”, diz trecho do documento.
O aumento em patamar maior já era esperado por parte do mercado nos últimos dias. A perspectiva de inflação persistente, catapultada pelo perigo de furo do teto de gastos, é um dos fatores que justificam o reajuste mais robusto, segundo especialistas. O diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, afirma que essa questão fiscal tem peso importante na decisão mais incisiva do BC.
— Se não houvesse essa fala de estourar o teto, o Banco Central não ia passar de um ponto percentual. Diante do cenário de furo do teto, isso inevitavelmente traz mais inflação e não resta outra alternativa para o Banco Central além de ser mais agressivo na alta de juros — pontua Oliveira.
Na semana passada, o governo Jair Bolsonaro alinhou uma mudança para abrir espaço nas despesas adicionais em 2022. A manobra visa bancar o pagamento de R$ 400 aos beneficiários do Auxílio Brasil, divulgado como substituto do Bolsa Família. Esse flerte com o furo do teto de gastos gera incerteza na economia e provoca pessimismo para o futuro. O presidente afirma que não haverá furo do teto.
Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, também cita o risco de desrespeito ao teto de gastos como principal fator para o juro mais alto. O diretor afirma que a decisão do Copom sinaliza a persistência de uma inflação diante da alta de câmbio causada por desequilíbrio fiscal.
— Com toda essa rebordose que aconteceu com o ruído do furo do teto, o dólar sobe mais, o que significa mais pressão inflacionária e mais necessidade da carga de juros — afirma Bianchi Filho.
A Selic é o principal instrumento do BC para tentar desacelerar a inflação. Atualmente, com dados até setembro, a inflação acumula alta de 10,25% em 12 meses no país. O índice segue acima do teto da meta para 2021: 5,25%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), que mostra a prévia da inflação, registrou alta de 1,20% em outubro após avanço de 1,14% em setembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento do IPCA-15 ocorre acima do esperado.
O sócio-diretor da Fundamenta Investimentos avalia que o governo deveria pensar em outras fontes de verba para o auxílio, revendo alguns pontos, como o dinheiro destinado a emendas parlamentares, benefícios para alguns setores e o fundo partidário.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) avaliou, em nota, o aumento na Selic como cautelosa. O presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry, avalia que a ação ocorre em função da piora nas expectativas para a inflação diante de aumentos nos preços de energia e combustíveis e também por mudanças no ambiente fiscal.
“A opção de alterar o indexador do teto de gastos para abrir espaço para novas despesas abre um precedente perigoso que altera o nível de risco-país e torna a inflação ainda mais persistente, tanto para consumidores como para produtores”, afirmou Petry no comunicado.