As televisões conectadas à internet, as chamadas smart TVs, há pouco menos de uma década despontavam como uma grande novidade tecnológica. Evolução que veio rápido, não muito distante das primeiras tevês de tela plana, que no começo da década de 2000 eram para o bolso de poucos, mas foram se popularizando. Hoje, as smart TVs ocupam quase a totalidade do mercado brasileiro de televisores, com uma variedade que se adapta tanto ao ritmo das novidades quanto às possibilidades de compra do consumidor — da simples à mais rebuscada.
Até junho de 2021, a participação das smart TVs no total de vendas de televisores no país era de 99,4%, segundo dado mais recente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). Em 2020, foram vendidas 12,6 milhões de smart TVs no Brasil, representando 97,7% do total de vendas. O interesse foi rápido e progressivo: em 2014, a modalidade somava 22,4% do total de comercializações; em 2016, 52% e, em 2018, 85%.
O mercado de televisores vem com crescimento forte nos últimos anos, e, no ano passado, ganhou novo sentido com a cultura do “fique em casa” devido à pandemia, quando as atenções se voltaram para dentro do lar, conforme o diretor comercial e negócios da GfK para América Latina, Henrique Mascarenhas.
— Há uma mudança cultural onde cada vez mais as famílias vão demandar televisores com telas maiores. Estamos voltando para a década de 1980 onde só tinha uma televisão em casa e todo mundo se reunia em volta dela. A diferença é que há várias telas em casa, onde se pode assistir outras coisas de forma individual e aí, no coletivo, eu vou para a televisão grande — avalia.
A mudança de comportamento foi o que manteve o mercado estável. Segundo a Eletros, em 2020, as vendas tiveram redução de 0,5% ante 2019. Em 2021, a queda já é de 5% ante o ano passado. A expectativa é pela sazonalidade do segundo semestre, quando entra a maior parte das comercializações em virtude de datas como a Black Friday e o Natal. O último trimestre do ano é o mais forte para a indústria de eletroeletrônico e chega a representar um terço das vendas.
— No ano passado, o ambiente do lar teve outra configuração, onde o televisor, o computador e o celular acabaram sendo os principais produtos na melhoria do ambiente. Foi graças a isso que quase empatou com 2019. Não fosse isso, seria catastrófico — diz Jorge Nascimento, presidente da Eletros.
De acordo com a consultora GfK, a restrição orçamentária do consumidor, que aumentou ao longo de 2020, é o que mais impacta o desempenho. Somado a isso, entram os custos de produção, que encareceram os televisores em até 30%. A alternativa da indústria para driblar o aumento de preços foi diversificar a produção, já que o consumidor brasileiro, apesar do bolso curto, segue exigente.
Smart TV e tela grande, acima de 50 polegadas, é o que o comprador mais demanda. Mas há todo tipo de smart: do mais simples com aplicativos básicos ao mais complexo com comando de voz, espelhamento de tela e sistema operacional.
— A indústria lança produtos talvez com uma tecnologia de LED inferior, uma smart mais simples, para conseguir fazer preços mais baixos. Os produtos “top” estão virando intermediários, o que a gente está chamando de “produto premium acessível”. São produtos mais “telados” pra atingir uma população que está com uma restrição orçamentária bem menor — explica Mascarenhas.
Novas marcas
Em termos de unidades vendidas, o Brasil está entre os maiores compradores mundiais de televisores. São 1.7 TVs por casa, segundo a GfK. E a exigência do consumidor por um mercado amplo abre espaço para que a produção também se diversifique. Samsung e LG são os grandes players, mas com a saída da Panasonic e da Sony, a indústria nacional se movimenta para ganhar mercado.
A Mondial comprou a fábrica da Sony em Manaus e deve começar a produzir televisores ainda neste ano. Procurada pela reportagem, a fabricante de eletroportáteis não deu detalhes sobre o início da operação e disse que as diretrizes ainda estão sendo tratadas. Britânia, conhecida pelos eletros para cozinha, e Multilaser, importante no segmento de informática, também entram no mercado de televisores abrindo passagem para a indústria nacional.
— Tem espaço para se apertarem ali, até porque tem uma dominância muito grande dos asiáticos e dos coreanos. Mas é lógico que, a longo prazo, aqueles que tiverem mais fôlego vão ser os que vão se sustentar. Em 1998, a gente chegou a ter mais de 15 marcas de televisores no Brasil ao mesmo tempo. A maior parte delas não foi bem sucedida — lembra Mascarenhas.
Na visão dos especialistas, quem sai ganhando é o consumidor. A infinidade de marcas e de players entrando possibilita produtos sendo feitos para o mercado brasileiro, ampliando a faixa de preços e as opções que cabem no bolso, mas sempre entregando o que o consumidor precisa.
— Existe a restrição orçamentária, mas ainda assim o consumidor brasileiro é exigente e ávido por tecnologia. Podendo, ele vai pagar. O problema é: ele podendo — conclui Mascarenhas.