Garrafas ao invés de bebedouro, medição de temperatura, reuniões virtuais e revezamento no refeitório. Medidas como essas, apontadas como eficientes na prevenção ao coronavírus, foram identificadas por uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em canteiros de obras do Estado.
O estudo, iniciado em junho do ano passado, busca diagnosticar o que está sendo feito para controlar a propagação da covid-19 nesses ambientes, assim como desenvolver protocolos para o combate da doença e integrar tecnologias digitais no monitoramento das atividades.
Em um primeiro momento, o grupo avaliou o que diziam decretos municipais e estaduais, normas propostas por entidades do setor no Brasil e no Exterior e diretrizes do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS). Também entrevistou especialistas em áreas como epidemiologia e segurança no trabalho. Em uma lista — considerada pelos pesquisadores a mais completa para orientar a construção civil até agora — foram elencadas 52 práticas de prevenção.
Com a lista em mãos, professores e estudantes foram até dezenas de obras para entender se os profissionais estavam conseguindo implementá-las. Nos 32 empreendimentos visitados em Porto Alegre, Região Metropolitana e Passo Fundo — onde o Complexo de Ensino Superior Meridional (Imed) foi parceiro da pesquisa —, 87% dos protocolos estavam sendo adotados total ou parcialmente.
— Ficamos surpresos positivamente, pois a grande maioria estava conseguindo executar muito bem as medidas. Me senti mais seguro nos canteiros de obras do que em muitos supermercados. É claro que alguns ainda não conseguem fazer tudo, mas é um trabalho de formiguinha, desde uso de máscara e álcool gel — explica Carlos Formoso, professor do Departamento de Engenharia Civil da UFRGS e coordenador da pesquisa.
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Segundo o professor, a maior parte das medidas é simples e tem baixo custo. Uma das sugestões foi a de dividir as equipes em zonas: caso algum trabalhador apresentar sintomas, apenas os colegas próximos precisam ser rastreados. Práticas como instalação de barreiras, treinamentos, encontros online e melhora da ventilação também foram elencadas.
O empreendimento Teená, da construtora Melnick Even, é um exemplo de como as medidas podem ser implementadas com eficiência. Assim que a pandemia teve início, um comitê de combate à covid-19 foi formado pela empresa. De lá para cá, apenas quatro internações por covid-19 foram registradas entre os 1,2 mil colabores da incorporadora, que não teve nenhum óbito em decorrência da doença no quadro de funcionários.
Localizado no bairro Três Figueiras, na Capital, o local onde está sendo erguido um edifício residencial tem distanciamento estabelecido em todos os cantos, começando pela entrada, onde há afastamento de 1,5 metro na fila de medição de temperatura. Dentro da obra, cartazes orientam os colaboradores sobre o uso de máscara e higienização das mãos. No refeitório e no vestiário, uma redução de 25% da capacidade foi implementada junto ao revezamento para acesso. A comunicação, sempre que possível, é feita por rádio portátil. Ao sinal de qualquer sintoma, o funcionário é testado.
— Agimos rápido e o resultado tem sido excelente. Há duas semanas não temos nenhum diagnóstico de covid-19 — conta Paulo Henrique Mayorca, engenheiro de segurança do trabalho da Melnick Even.
Tecnologias de monitoramento
Além das medidas sanitárias, a tecnologia tem sido uma aliada no combate à covid-19. Com uma câmera 360° integrada a um capacete, o engenheiro civil Fabrício Vargas percorre o canteiro de uma obra em Canoas, na Região Metropolitana. Mais tarde, acessando as imagens pelo computador, o pesquisador comprova que é possível visitá-la a distância.
Há seis meses, o doutorando na área de Gestão de Produção na UFRGS vai semanalmente ao local onde está sendo construído um edifício residencial, no centro da cidade, fotografa os ambientes e alimenta uma plataforma online. O material é usado como apoio à gestão da obra, gerenciada pela LD Consulting.
— Conseguimos monitorar o progresso do trabalho, ver se as medidas de distanciamento estão sendo obedecidas e se os trabalhadores estão usando EPI. Tudo a distância — afirma o pesquisador, que também aposta no uso de drones para monitorar canteiros de obras.
As empresas que quiserem acessar os protocolos elencados pela pesquisa podem acessar o e-book desenvolvido pela equipe de pesquisadores.