Se por um lado o confinamento em casa é fundamental para evitar o aumento dos casos de contaminados pelo coronavírus, por outro, está reduzindo a demanda de serviços de transporte. Motoristas de aplicativo consultados por GaúchaZH revelam quedas de até 70% nas corridas desde que as medidas de restrição de circulação foram adotadas em Porto Alegre. Estimativas da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) apontam que esse segmento abrange 25 mil pessoas na Capital, cinco vezes mais do que de taxistas.
O clima é de apreensão, em especial, entre condutores que trabalham com carros alugados, que estão devolvendo os veículos.
— Conheço gente que já entregou o veículo. Estou segurando ao máximo, mas, se a situação continuar assim, não terei dinheiro para pagar o aluguel e também vou devolver o meu — afirma Cláudio Luís Araújo, 48 anos, há dois como motorista para a Uber.
A situação só não está pior, diz Araújo, porque a locadora diminuiu de R$ 1,4 mil para R$ 700 o valor do aluguel do carro. Mesmo assim, o desconto é paliativo. Ele afirma que o faturamento bruto despencou, trabalhando oito horas diárias, de R$ 350 em média para, no máximo, R$ 100. É o valor que resta para bancar todos os custos com o carro e com o sustento da família.
Para seguir trabalhando com carro alugado, mesmo recebendo desconto de 30% da locadora — de R$ 1,3 mil para R$ 900 — o motorista Glauco Waichel, 48 anos, conta que reduziu gastos com alimentação e vem empurrando o pagamento de outras despesas.
— Sou solteiro, moro sozinho e tenho "paitrocínio". Mesmo assim, estou com as contas da luz, da água e do telefone atrasadas — lamenta.
Conforme ele, as corridas estão tão raras que, ao final de 10 horas de trabalho, sobram apenas R$ 10 líquidos.
Além do sumiço de clientes, os condutores lamentam a escassez de locais para uso de banheiro.
— Está complicado achar. A maioria está fechado, e onde está aberto, barraram a entrada com medo de contaminação. Tomo todos cuidados, inclusive uso máscara quando vou a locais de risco — afirma Cláudio Araújo.
O irmão de Cláudio, Ricardo da Rosa Araújo, 43 anos, desistiu do trabalho nesta quinta-feira (26) para atuar como voluntário em uma farmácia da zona sul da Capital, ajudando a organizar a fila de idosos para vacinação contra a gripe.
— Está de chorar, apavorante. Abri mão de fazer corridas porque na quarta-feira foram apenas cinco corridas em 10 horas de serviço. Achei melhor auxiliar minha mulher que trabalha na farmácia e, neste momento, é quem está segurando a onda — relata.
O Ka modelo 1.0 que Ricardo dirige é financiado e ele teme não ter dinheiro para as prestações se o cenário seguir sombrio.
Empresas prometem auxílio
Conforme a 99, uma das medidas de apoio a motoristas parceiros em Porto Alegre é destinar o valor integral para eles das 20 mil corridas que serão doadas pela 99 à Secretaria de Saúde de Capital para combater a covid-19.
A Uber divulgou um comunicado no qual afirma que 1 milhão de motoristas parceiros têm descontos em consultas, exames médicos e em farmácias, além de fornecer ajuda para limpeza de carros. Também afirma que quem for diagnosticado com o coronavírus, necessitando de isolamento em quarentena, receberá auxílio financeiro por até 14 dias, baseado no valor médio de ganhos antes de 6 de março.