SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O fundador do BTG Pactual, André Esteves, defendeu uma atuação maior dos bancos públicos e a volta da compra de ações pelo BNDESPar como formas de injetar dinheiro na economia e de fazer com que a liquidez do sistema financeiro chegue nos chamados setores reais --responsáveis pelo fluxo de bens e serviços no país.
"Tem algumas coisas que podem ser feitas via Caixa e BNDES, por exemplo, mas principalmente via BNDES eu temo um pouco pela agilidade da máquina. A história e a excessiva judicialização brasileira me fazem crer que o banco de fomento não vai conseguir se mexer no tempo em que o mundo financeiro, a média empresa e o setor real necessitam", afirmou o executivo em um debate online e de transmissão ao vivo promovido pelo BTG Pactual nesta quarta-feira (25).
Segundo Esteves, é obrigatório fazer algo que estimule a economia do país porque a crise do coronavírus podem causar fortes impactos no orçamento familiar e corporativo, mas é preciso disciplina.
O executivo também defendeu uma agenda de compra de ações por parte do BNDESPar (holding ligada ao BNDES que investe em ações de companhias privadas que são de interesse do governo).
"Um dos objetivos do BNDESPar é estimular e fomentar o mercado de capitais, e passar para uma agenda de compra no mercado de ações é algo que seria facilmente aceito. E não é porque estamos em um programa de desestatização que não possa fazer sentido o BNDES fazer um programa de compra que vai gerar liquidez e tranquilidade na Bolsa", disse Esteves.
Rogério Xavier, sócio e gestor do SPX Capital, concordou.
"É para usar o BNDES justamente nessas horas. Usar Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e todo o arsenal possível porque estamos vivendo uma crise sem precedentes", afirmou.
Os executivos defenderam a venda de reservas por parte do Banco Central. Segundo Esteves, a estimativa do BTG é que o Brasil tenha ganhado de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões pela redução de juros nos Estados Unidos.
Para os executivos, a atuação do BC brasileiro ainda é insuficiente e precisa se basear mais em ações feitas por bancos centrais e países como Alemanha, Estados Unidos, México e Chile.
Na segunda-feira (23), o Fed (BC dos EUA) anunciou compras ilimitadas de títulos do Tesouro americano para dar liquidez às empresas. Nesta quarta, a Alemanha aprovou um plano de resgate de cerca de 1,1 trilhão de euros para proteger a economia.
"O banco central chileno suspendeu prazos para deixar os bancos o mais flexíveis possível para apoiar o setor real da economia. No Brasil, temos um Banco Central muito qualificado e técnico, nossa regulação bancária, no geral, é historicamente muito melhor do que as outras, mas ainda estamos muito tímidos na atuação", disse Esteves.
Os executivos reforçam, ainda, que o estímulo necessário não deve ser via redução de juros.
"Se reduzirmos mais a taxa de juros, o movimento será contracionista, porque a curva de juros vai empinar [quando os juros caem no curto prazo, mas sobem nos vencimentos mais longos], o real vai se desvalorizar, os agentes vão ficar mais inseguros, o risco vai subir e portanto o crédito vai contrair. Brasil não é Estados Unidos nem Europa e não temos o direito de levar os juros a zero", completou Esteves.