Os mercados financeiros mundiais viveram uma semana sombria, devido às consequências devastadoras que a economia sofreu em razão do coronavírus. Algumas bolsas registraram quedas sem precedentes desde a crise de 2008.
As perdas sofridas pelas ações europeias desde a outra sexta-feira (21) — cerca de 12% a 13% — são as mais importantes desde a crise financeira de 2008-2009, quando a economia entrou em recessão. Outros sinais são igualmente preocupantes, como o nível do índice de volatilidade VIX (ou "índice do medo"), o mais alto desde 2011, ano da crise da dívida pública na zona do euro.
— Em um contexto de mercados supervalorizados, o que temíamos ocorreu: o choque financeiro causado pela disseminação do vírus fora da China é muito forte, o que dá uma nova dimensão à crise — ressalta a analista Véronique Riches-Flores. É uma crise financeira por muito tempo temida e que, se prolongada, terá consequências potencialmente mais prejudiciais do que a própria epidemia da COVID-19.
Após o colapso de Wall Street (-4,42% para o Dow Jones e S&P 500, -4,61% para o Nasdaq) na quinta-feira (27), os mercados asiáticos também caíram (-4% para Tóquio e Xangai,-5% para Shenzhen). Na esteira dessa tendência, as praças europeias abriram nesta sexta-feira (28) com pesadas perdas, em torno de 3%.
Para Riches-Flores, o risco é importante "porque a epidemia continua a se espalhar, ameaçando um número crescente de regiões ao redor do mundo, incluindo os Estados Unidos", a primeira economia global, à frente da China.
— (Com isso), apaga-se quase todo movimento ascendente desde o verão passado (no Hemisfério Norte), e isso em apenas uma semana — destaca Tangi Le Liboux, estrategista da Aurel BGC.
Até pouco tempo, a China era o único foco da epidemia, mas o risco se multiplicou com o surgimento de novos surtos, como na Coreia do Sul, no Irã e na Itália. Os últimos países que entraram na lista são Holanda, Bielorrússia, Nova Zelândia e Nigéria, o primeiro país com pessoas infectadas na África subsaariana.
Segundo vários analistas, não é tanto a gravidade da epidemia que preocupa, mas as medidas tomadas para contê-la, especialmente prejudiciais à economia.
— O impacto econômico é totalmente imprevisível. E é essa situação que faz as bolsas caírem — explica Le Liboux.
Nesse contexto, os investidores estão se voltando para valores-refúgio, principalmente obrigações do Estado, ou ouro. Enquanto isso, os preços do petróleo continuavam em queda nesta sexta (28), devido às possíveis consequências da epidemia do coronavírus para a demanda mundial.
Nesta sexta-feira, às 7h30min, o barril de Brent do Mar do Norte para entrega em abril perdia 2,84% em Londres, em comparação com quinta-feira (27), a US$ 50,70 por barril. Em Nova York, o barril de WTI caía 2,59%, a US$ 45,40. Os preços do petróleo já tiveram cinco sessões consecutivas de perdas e, em uma semana, já acumulam uma queda de cerca de 15%.
A situação representa um desafio para a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados, que se reunirão na próxima quinta (5) e sexta-feira (6) em Viena, sede da organização.
