Al Gore, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos convertido em ativista ambiental, respondeu ao comentário feito na terça-feira (21) pelo ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça.
— Hoje é amplamente entendido que o solo na Amazônia é pobre. Dizer às pessoas no Brasil que elas vão chegar à Amazônia, cortar tudo e começar a plantar, e que terão colheitas por muitos anos, isso é dar falsa esperança a elas — afirmou. — Há, sim, respostas para a Amazônia, mas não é esta — disse.
Gore foi indagado sobre a afirmação de Guedes pela mediadora durante um painel a respeito da Floresta Amazônica do qual participa ao lado do cientista brasileiro Carlos Nobre, do presidente da Colômbia, Ivan Duque, e da primatologista britânica Jane Goodall no palco mais nobre do evento. A preservação ambiental é um dos eixos da reunião do Fórum neste ano, e a Amazônia é um foco de preocupação em uma Davos que, em pleno inverno nos Alpes Suíços, amanheceu sem neve nas ruas e com temperaturas amenas.
— Os brasileiros, desde sempre, falam que não querem que outras pessoas se metam na questão amazônica. E isso deve ser respeitado — ponderou Gore antes de criticar a declaração de Guedes.
O ministro brasileiro fizera o comentário durante uma sessão na terça-feira (21) cujo tema era manufatura. Questionado pela mediadora sobre como os governos poderiam lidar com o medo da população das consequências da mudança climática, Guedes apontou a pobreza como inimiga do ambiente e disse que o Brasil primeiro precisava consertar outros problemas nessa equação.
Lembrou, também, que as preocupações de quem desmata hoje poderiam ser diferentes daquelas de quem desmatou no passado — uma aparente alusão ao embate entre países emergentes e ricos sobre quem deve se responsabilizar financeiramente pela redução das emissões de gases-estufa.
Durante o painel desta quarta (22), Gore elogiou o trabalho de Nobre e lembrou do projeto do cientista para que a floresta trabalhe com culturas que já produz e que têm maior valor agregado, como o açaí. O cientista, por sua vez, disse esperar que no próximo ano, quando voltar, possa celebrar menos desmatamento na Amazônia, e que para tanto era preciso da colaboração de todos os envolvidos na cadeia global de produção — empresas inclusive.
Gore também aproveitou para alfinetar o presidente norte-americano, Donald Trump, que, na véspera, discursara e pedira que as pessoas rejeitassem o alarmismo ambiental.
— Temos que agir agora, e sabemos o que precisa ser feito, para frear o aquecimento global. O que falta é vontade política — disse Gore. — Felizmente, vontade política é um recurso renovável —completou.