A Corsan toca, atualmente, 180 obras que somam quase R$ 1 bilhão. Ainda que ostente satisfação de 80% dos clientes e tenha expertise valorizada por prefeitos, a eficiência não passa incólume a reclamações, sobretudo no trato com esgoto.
A insatisfação é reflexo de descumprimento de prazos e escassez de investimentos, avalia o presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Dudu Freire. Somente em 2018, a Corsan pagou à Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do RS (Agergs) seis multas que totalizam R$ 150 mil, todas por infrações contratuais. A ouvidoria da Agergs recebeu, no mesmo período, 987 reclamações de clientes insatisfeitos com a companhia. A Famurs reconhece, porém, seu potencial.
— Desempenha serviço de extrema relevância e entendo que, mesmo com suas dificuldades, pode atender às demandas que se apresentam. Detém todas as condições de liderar grandes projetos. O maior problema está na falta de recursos — argumenta Freire.
Desagrado e compreensão em Santa Cruz do Sul
Dia sim, dia não falta água em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. O contrato mais recente firmado entre Corsan e prefeitura foi assinado em 2014, com cláusulas prevendo investimento mínimo em abastecimento de água e esgotamento sanitário de quase R$ 328 milhões em 40 anos. Mas nem tudo o que está acordado no papel vem sendo cumprido.
O município já aplicou, de dezembro de 2016 a junho deste ano, três multas que somam R$ 312,7 mil.
— Não posso dizer que estamos plenamente contentes. A falta de água atrapalha bastante, os atrasos incomodam, tanto que estamos aplicando multas. Mas é preciso entender que é uma estatal importante, que tem expertise na área. Acreditamos que a Corsan irá intensificar as obras — comenta o secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão, Jeferson Gerhardt.
Parte da solução passa pela construção de cinco reservatórios de grande porte nas áreas altas da cidade, acordada em contrato para julho de 2017. As caixas d'água terão capacidade de abastecer 70% da população sem uso de bombeamento, se valendo apenas da gravidade. Isso diminui o risco de rompimento das tubulações. Conforme a Corsan, um reservatório ficará pronto em dezembro e outro em outubro de 2020. Apenas essas estruturas ampliarão a capacidade de reserva em 3 milhões de litros, incremento de 15%.
A falta de água, segundo a Corsan, é, na maioria das vezes, decorrente de "situações operacionais". Uma nova adutora de água bruta irá começar a operar em 150 dias, investimento de R$ 5 milhões".
Cristal e Taquari reclamam de contratos descumpridos
A população de Cristal, no sul do Estado, aguarda um projeto de tratamento de esgoto prometido para 2015, que até hoje não foi apresentado à prefeitura pela Corsan. Conforme a prefeita Fabia Richter, nada do que foi acordado em 2011 sobre esgotamento sanitário foi cumprido. E esse é apenas um dos problemas que ela aponta. Há insatisfação também com consertos na rede, que se estendem por dias e obrigam a prefeitura a colocar máquinas próprias na obra.
— Temos uma briga gigantesca por causa disso. Estragam nosso calçamento, abrem os buracos e demoram para fechá-los. Ou nem abrem. Esperam que a gente faça. Já denunciamos na Agergs, organizamos audiências públicas, mas nada resolve. Não rompemos o contrato por não termos alternativa — lamenta a prefeita.
Em Taquari, o contrato que a prefeitura firmou com a Corsan em 2011 previa investimento de R$ 39 milhões em coleta e tratamento de esgoto. Nada aconteceu, reclama o prefeito Maneco Hassen. Os 26 mil moradores não têm esgoto tratado.
— É uma vergonha — desabafa.
O prefeito diz, também, que as melhorias no abastecimento cessaram. Hoje, para asfaltar as ruas, é preciso pedir que a Corsan troque a tubulação antiga, sob pena de romper durante a obra. Hassen reclama que buracos ficam abertos por cerca de 60 dias.
A Corsan diz ter feito parcerias com o município para substituição e ampliação das redes de água. Em relação aos buracos nas vias, afirma ter notificado as empresas terceirizadas.
Prefeito de Gramado elogia Corsan
O prefeito de Gramado, João Alfredo de Castilhos Bertolucci, o Fedoca, reconhece problemas na cidade — onde houve falha de abastecimento no ano passado —, mas elogia o trabalho na Corsan:
— Houve tempos conflituosos que foram superados com diálogo iniciado em 2016. Desde então, a atuação da Corsan evoluiu muito. Estamos longe do ideal, é verdade. Mas, agora, temos até uma regional deles aqui. Não precisamos mais esperar os técnicos se deslocarem de Porto Alegre.
Em setembro de 2018, a Corsan instalou um reservatório de 26 metros de diâmetro, 10 metros de altura e capacidade de armazenamento de 3 milhões de litros. Posicionado na Aldeia do Papai Noel, foi pintado de verde para harmonizar com a paisagem. O investimento de R$ 3,6 milhões na obra, feito pela empresa pública, dobrou a capacidade de acondicionamento da cidade.
Destino de 6 milhões de visitantes ao ano, Gramado sofreu com desabastecimento em novembro do ano passado. Escolas interromperam aulas e postos de saúde precisaram providenciar galões para manter os atendimentos. No setor de turismo, hotéis tiveram de recorrer a caixas d'água e restaurantes decidiram interromper as atividades. Tudo por conta do rompimento de um registro.
A peça ficava no exato ponto de bifurcação entre a nova adutora, que estava sendo instalada, e o sistema existente. A situação levou a prefeitura de Gramado a decretar estado de calamidade pública.
— Nem nós nem a Corsan podemos garantir que isso não irá mais acontecer. Foi um problema pontual. O que podemos garantir é que a Corsan melhorou em muito a prestação de serviço aqui na cidade — diz Fedoca.