SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A liberação de 290 agrotóxicos e mudança da classificação de toxicidade feitas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) neste ano esquentaram uma das mesas de debate do 3º Fórum de Agronegócio Sustentável, ocorrido nesta segunda-feira (26).
O seminário foi organizado pelo jornal Folha de S.Paulo, com patrocínio da BRF e apoio do governo de Mato Grosso e da CNA (Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária).
Silvia Fagnani, ex-vice-presidente executiva do Sindiveg (Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Defesa Vegetal), defende as novas medidas adotadas pela Anvisa e a aprovação dos produtos.
Dos 290 produtos aprovados neste ano, apenas sete são novos. Os outros 283 já [eram substâncias] que estavam no mercado. Isso significa maior disponibilidade e menor preço, apontou. Segundo ela, a avaliação de risco adotada pela Anvisa permite segurança para aplicadores dos produtos e consumidores finais.
Marcelo Novaes, defensor público do estado de São Paulo, discorda dessa avaliação. Não vai ter uma alteração de preço porque o mercado é altamente concentrado. Apenas quatro empresas dominam o mercado, disse.
Ele também discorda da regulamentação atual e aponta a falta de transparência na divulgação de dados de comercialização como um obstáculo para melhor governança da questão. [As novas aprovações] são mais do mesmo de uma coisa que não está funcionando, não consigo ver com bons olhos. A não ser que os dados de comercialização fossem abertos, afirmou.
De acordo com Novaes, é preciso repensar o modelo de tributação do setor agrícola e tratar o debate sobre os defensivos sob a ótica da redução de danos. Na Europa, esses produtos são encarados como um mal necessário. Aqui, são vistos como a solução da lavoura, criticou.
Também preocupa Novaes a venda e uso fora das recomendações. Não se sabe o que é vendido, consumido e aplicado. Na frente do Ceasa você compra paraquat [herbicida muito utilizado] sem receituário agronômico, disse.
Fagnani concordou com os problemas relativos à falsificação dos agrotóxicos. O contrabando, a falsificação e o roubo de carga vêm aumentando. O produto roubado é adulterado e vendido por um preço muito mais barato, e o produtor compra, lamentou.
Para ela, a demora na avaliação técnica para aprovação de novas substâncias é um impeditivo para melhora do mercado. Temos produtos com 12 anos na fila para aprovação e conheço casos em que, por conta da demora, quando foram aprovados, eles não tinham serventia. Não podemos abrir mão dos antigos porque os mais novos não chegam [ao mercado].
Segundo Caio Carbonari, agrônomo e professor da Unesp, uma das melhorias possíveis no cenário de uso dos agrotóxicos é justamente a liberação de novas moléculas. Estamos avançando muito no sentido de ter produtos cada vez mais eficazes, aplicados em menores doses, [que dão] mais segurança para o ambiente e para o trabalhador, disse.
Segundo pesquisas citadas por ele, numa análise entre 2002 e 2015, o risco dos defensivos usados em 2015 era 37% menor que em 2002. Isso não se muda de uma hora para a outra, faz parte da evolução dos defensivos, completa.