Em evento sobre liberalismo econômico nesta sexta-feira (15), integrantes da equipe econômica do governo voltaram a defender a privatização de grandes empresas estatais, como Petrobras e Banco do Brasil, apesar de determinação contrária do governo Jair Bolsonaro.
Em sua palestra, na qual disse que privatizações e venda de ativos são uma das prioridades de sua gestão, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a dizer que "no final, vai a (privatização da) Petrobras também, vai o Banco do Brasil".
— Tem que ir tudo — defendeu.
— Como liberais, somos contrários a empresas estatais. Com exceção do Banco Central, bancos públicos deveriam ser privatizados e o BNDES extinto. A Petrobras também deveria ser privatizada — disse o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.
Castello Branco já havia defendido a privatização da estatal, mas após assumir a empresa, disse não ter mandato para fazê-lo. Prometeu um plano "mais agressivo" de venda de ativos para focar na exploração do pré-sal.
Em sua palestra, Castello Branco disse que a empresa vai arrecadar US$ 10 bilhões (cerca de R$ 38 bilhões) com vendas de ativos até abril e espera atingir ao menos US$ 30 bilhões (cerca de R$ 114 bilhões) em ativos em 2019.
A expectativa é maior do que os US$ 26,9 bilhões (R$ 103 bilhões) previstos para os próximos cinco anos no plano de negócios da empresa, aprovado pela gestão anterior. Castello Branco já disse que pretende propor um plano "mais agressivo".
— Nos primeiros quatro meses do ano teremos realizado desinvestimentos de US$ 10 bilhões (R$ 38 bilhões) e pretendemos fazer muito mais. Acredito que, ao longo de doze meses, podemos ter três ou quatro vezes esses US$ 10 bilhões — afirmou nesta sexta.
O executivo não detalhou os ativos com os quais conta para atingir o objetivo. No momento, a empresa negocia a venda da malha de gasodutos das regiões norte e nordeste, negócio estimado pelo mercado em torno dos US$ 8 bilhões.
Também presente ao evento, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes defendeu a privatização do BB e da Caixa, argumentando que as instituições seriam mais eficientes com gestão privada.
— Ao longo da história, o governo mais atrapalhou do que ajudou o Banco do Brasil — afirmou. — Não vejo nada que não pudesse ser alcançado como prioridade do governo por todo o sistema bancário — completou o executivo.
O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que participou da mesma mesa em que estava Novaes, não citou privatização do banco, mas falou em saída de segmentos não prioritários e abertura de capital de subsidiárias.
A Caixa pretende lançar em setembro operação para atrair investidores para a Caixa Seguridade. Outras operações de abertura de capital estão em estudo.
O seminário "Nova Economia Liberal" foi realizado pela FGV (Fundação Getulio Vargas) do Rio e discutiu a Reforma da Previdência, o papel dos bancos públicos e do setor de óleo e gás na nova política econômica brasileira.
Ao convidar Guedes para comandar a área econômica de seu governo, Bolsonaro prometeu carta branca ao economista, mas determinou a manutenção de Petrobras, Banco do Brasil e Caixa como estatais. A decisão tem apoio da ala militar do governo, principalmente em relação à Petrobras.
Ainda assim, as gestões das grandes estatais vêm sinalizando uma postura mais agressiva com relação a vendas de ativos. Na Petrobras, por exemplo, Castello Branco já anunciou que vai rever o plano de desinvestimentos, acelerando a saída de segmentos e reduzindo ao menos à metade sua participação no refino brasileiro.
Guedes convidou o empresario Salim Mattar, dono da Localiza, para assumir a secretaria de Privatizações do ministério e estabeleceu a meta de vender US$ 20 bilhões (cerca de R$ 76 bilhões) ainda em 2019.
— Eu trouxe o Salim Mattar, com apetite enorme, doido para privatizar o máximo possível, doido para passar a faca — afirmou o ministro da Economia, no evento desta sexta. Ele calcula que a venda a venda de todas as empresas e imóveis do governo poderiam render R$ 1,2 trilhão.
Com a restrição à venda das três maiores estatais, porém, a principal operação na mira do governo atualmente é a venda de ações da Eletrobras, proposta pelo governo Temer, que reduziria a fatia do governo na companhia. O negócio deve render R$ 12 bilhões, segundo projeção feita ainda pelo governo anterior.
Outro foco é a venda de imóveis. No evento desta sexta, Guedes brincou que preferiu deixar Mattar morando em um hotel para vender a residência em Brasília para a qual ele poderia se mudar.