SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa entrou no modo montanha-russa com alta de 2,7% desta quinta (28), depois da perda de mais de 3% na véspera. Para analistas, nenhuma dessas oscilações bruscas se justifica, mas elas refletem as incertezas políticas, que agora começam a se dissipar. O dólar, apenas nesta quinta, foi da máxima de R$ 4 até R$ 3,90 no mesmo pregão.
No fechamento do mercado, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara escolheu Marcelo Freitas (PSL) relator da reforma da Previdência, após atraso causado pelos atritos entre o governo Jair Bolsonaro e o Congresso.
Foi a notícia positiva que coroou um dia de sinalizações de trégua entre os Poderes após mais de uma semana de disputa. Na véspera, Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reeditaram trocas de acusações que ganharam força no fim de semana.
O Ibovespa, principal índice do mercado acionário, avançou 2,70%, a 94.388 pontos. O giro financeiro voltou a superar a média diária do ano, a R$ 17,4 bilhões.
"Houve um exagero ontem [quarta, 27]. As pessoas começaram a comprar a ideia de que Paulo Guedes [ministro da Economia] iria sair, sendo que ele frisou que não sairia na primeira derrota. Hoje [quinta], temos a reposição desse exagero. Não é uma reversão quanto à preocupação", afirma Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos.
Guedes continua sendo a referência do mercado para a reforma da Previdência e atrai as atenções de investidores em meio ao ruído político.
"Foi um engasgo nesta semana, que a gente esperava que aconteceria. O que não esperava é que seria ainda na CCJ, que é só pré-temporada, não o campeonato", afirma Evandro Buccini, da Rio Bravo Investimentos.
Para ele, o mercado segue confiante na aprovação da reforma da Previdência. As dúvidas estão concentradas no prazo e no tamanho da economia, que no projeto inicial é de R$ 1,1 trilhão em dez anos.
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, também não duvida da aprovação. "O timing da política sempre é inferior ao dos investidores, e pelo que nós entendemos Guedes tem pressa de investidor."
No exterior, as Bolsas europeias fecharam a quinta-feira sem direção definida, enquanto as americanas terminaram com ganhos moderados.
O dólar terminou o dia de volta no patamar de R$ 3,90, após começar o pregão acima dos R$ 4. O Banco Central chegou a intervir no mercado colocando US$ 1 bilhão em leilões de linha (venda com compromisso de recompra de moeda) para conter as oscilações.
"Se a reforma da Previdência fosse aprovada com a mesma velocidade com que foi aprovado o Orçamento impositivo [uma derrota do governo na Câmara], o dólar estaria a R$ 3,60. Essa alta é apenas uma onda política, já que a taxa de juros está baixa e o Brasil tem uma grande reserva", afirma Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest.
A moeda terminou o dia cotada a R$ 3,9160, em queda de 0,98%.