A discussão em torno do plano da General Motors (GM) para reduzir custos e manter investimentos no Rio Grande do Sul terá novos desdobramentos nesta quarta-feira (30). Pela manhã, o governador Eduardo Leite e o prefeito de Gravataí, Marco Alba (MDB), participarão de encontro com diretores da montadora em São Caetano do Sul (SP). A reunião foi agendada após a multinacional sinalizar que pretende negociar benefícios e corte de despesas junto a governos e funcionários, sob risco de rever seu planejamento para o Brasil.
Nas tratativas com o poder público, a empresa poderia buscar incentivos fiscais. Por enquanto, o Palácio Piratini evita se manifestar sobre o assunto. Em São Paulo, onde a GM mantém duas fábricas de veículos (em São Caetano do Sul e São José dos Campos), o governo estadual estaria estudando socorrê-la com a antecipação de créditos do Imposto sobre Circulação de Bens de Serviços (ICMS). Por meio da medida, em tese, a montadora encontraria condições mais vantajosas para abatê-los imediatamente.
No Rio Grande do Sul, conforme relatório apresentado pelo Piratini em 2018, a empresa gerou R$ 749 milhões em receitas extraordinárias aos cofres gaúchos, desde 2015, graças à antecipação de créditos do ICMS. Diante da penúria nas finanças do Estado, o governo de José Ivo Sartori conseguiu na Assembleia Legislativa autorização para adotar a medida a partir de seu primeiro ano de mandato. À época, o texto ofereceu desconto de 3,5% mais a taxa Selic à GM para que a montadora antecipasse os valores. Em Gravataí, a prefeitura concede à montadora, até 2027, isenção da cobrança de tributos como IPTU e ISSQN.
— O Estado tem, talvez, capacidade de participação com algum incentivo melhor, de alguma modificação no que já existe. Vamos colocar (na reunião) a importância (da empresa) e os impactos negativos que poderão ser causados caso haja alguma interrupção na estratégia de investimentos previstos — afirmou o prefeito de Gravataí, na terça-feira (29), em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha.
A montadora tem em andamento projeto que estima aportes de R$ 13 bilhões no país. Do total, R$ 1,4 bilhão seriam destinados à unidade gaúcha, segundo anúncio feito pela GM em 2017. A parcela direcionada à Região Metropolitana contempla a produção de novo modelo de carro, que deverá estar no mercado até 2020.
Nos últimos dias, a empresa apresentou aos funcionários de Gravataí 21 medidas que deseja colocar em prática para reduzir despesas, como corte no piso salarial e revisão no programa de participação de resultados (PPR). Na manhã de terça-feira, durante ato promovido pelo sindicato dos metalúrgicos do município em frente à fábrica, os trabalhadores rejeitaram a proposta da GM. Diretor de assuntos patrimoniais da entidade, Noeldi Leal Trindade, o Nando, afirmou que não estão descartadas novas mobilizações.
Durante a tarde, representantes da entidade estiveram em São Caetano do Sul para conversar com a direção da companhia a respeito dos rumos de suas operações. ZH entrou em contato com as lideranças sindicais, mas não houve retorno até o fechamento desta reportagem.
O sindicato dos metalúrgicos estima em cerca de 3 mil o número de funcionários da montadora em Gravataí. Além deles, há outros 3 mil em sistemistas (fornecedores que atuam no local), aponta a entidade.
*Colaborou Tiago Bitencourt