Após pesquisar condições de pagamento, Paulo Roberto Sartori, 56 anos, decidiu trocar de carro em março. Na ocasião, o gestor imobiliário chegou a acordo para comprar um Renault Captur 2019 em uma concessionária de Porto Alegre. Para fechar o negócio à vista, no qual incluiu seu veículo anterior, modelo 2018, afirma ter recebido "um bom desconto".
— Pretendo trocar de carro de novo em 2019. Então, vou colocar outra vez em negócio um automóvel do ano em questão. Isso pode representar uma vantagem. Sempre há uma depreciação por conta do uso — argumenta Sartori, que já trabalhou no ramo de concessionárias de veículos.
Decisões como a do morador da Capital fizeram a venda de automóveis de passeio e comerciais leves zero-quilômetro acelerar no primeiro semestre no Rio Grande do Sul. De janeiro a junho, foram emplacados 65,3 mil veículos novos, alta de 14,8% em relação a igual período de 2017. Os números são do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv/Fenabrave-RS).
O resultado é o mais elevado para os primeiros seis meses do ano desde 2015, quando 76 mil unidades haviam saído das lojas gaúchas. O presidente do Sincodiv/Fenabrave-RS, Fernando Esbroglio, afirma que o avanço está relacionado, em parte, ao fato de a base de comparação ser considerada baixa.
— Durante a crise, o setor caiu muito. No Rio Grande do Sul, um fator que tem sido positivo é a safra agrícola, com impacto principalmente na venda de veículos no Interior — afirma.
A alta semestral também é atribuída a melhores condições na concessão de crédito para consumidores no país. Em maio, o financiamento de automóveis zero-quilômetro no Estado alcançou 6,6 mil unidades, elevação de 8,9% frente a igual mês de 2017, segundo a B3, a bolsa de valores de São Paulo. O aumento tem ligação com o recente ciclo de cortes na taxa básica de juro, a Selic (hoje em 6,5% ao ano), avalia Raphael Galante, da consultoria automotiva Oikonomia.
— A concessão de crédito ficou mais forte. Os bancos voltaram a financiar — explica o consultor.
Percentualmente, o crescimento gaúcho está em nível similar ao nacional. No primeiro semestre, o país registrou o emplacamento de 1,13 milhão de automóveis de passeio e comerciais leves, o que representa uma elevação de 13,7% frente ao mesmo intervalo de 2017, conforme a Fenabrave.
— O crescimento ocorreu por conta da base de comparação fraca do ano passado — reforça Galante.
Apesar do desempenho positivo no primeiro semestre, analistas projetam que o setor tende a perder velocidade até dezembro. No Rio Grande do Sul, a venda de automóveis de passeio e comerciais leves deve fechar o ano com crescimento de cerca de 10%, estima Esbroglio. O dirigente menciona que o possível freio no segundo semestre seria influenciado pelo aumento de incertezas relacionadas às eleições de outubro.
— Parte dos últimos acontecimentos políticos teve reflexos negativos na economia. Isso abalou a confiança dos consumidores. O mercado é uma orquestra muito sensível. Se alguém desafina de um lado, os outros também perdem o fio — compara.
No restante do país, Galante projeta que o crescimento na venda de automóveis de passeio e comerciais leves deve ser reduzido para em torno de 7% ao final do ano.
— Com incertezas, o consumidor não deve gastar tanto. A confiança ainda está baixa no país — diz o economista.
Além de automóveis de passeio e comerciais leves, a pesquisa do Sincodiv/Fenabrave-RS contempla caminhões, ônibus, motos e implementos rodoviários. Na soma das categorias, a venda no Estado aumentou 16% no primeiro semestre, para 86,5 mil unidades.