A crescente volatilidade do mercado brasileiro postergou ao menos R$ 6 bilhões em ofertas de ações, que podem ser reavaliadas depois do período eleitoral. As operações programadas para os meses de junho ou julho - Agibank (banco digital), Banrisul Cartões, Bunge Açúcar e Bioenergia e JHSF Malls, que chegaram a fazer o pedido de oferta para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - foram adiadas. Outras companhias, como a Quero-Quero, de varejo de construção, que estava na lista para uma abertura de capital até meados de julho, devem testar o mercado em outro momento, quando os ventos estiverem mais favoráveis.
O diretor gerente do Bradesco BBI, Leandro Miranda, afirma que a volatilidade antecipou o fechamento da janela para captações de forma bastante brusca, mas que a expectativa é de que ela se reabra após a eleição presidencial. Das empresas que estão na fila para abrir capital, salienta o executivo, algumas podem acabar se capitalizando por meio da venda de uma participação ou partindo para uma operação de fusão e aquisição. "Essas empresas tiveram uma tese de investimento difundida e agora passaram a chamar a atenção de investidores", disse.
No ambiente interno, incertezas trazidas com eleições e greve dos caminhoneiros ampliaram a desconfiança dos investidores. Tudo isso se somou ao cenário de instabilidade externa, com dúvidas trazidas pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, enfraquecimento das moedas dos emergentes e a expectativa em torno de mudança da política monetária americana.
"A greve dos caminhoneiros reduziu a expectativa de lucro das companhias. A deterioração do ambiente foi muito grande e o primeiro efeito foi queda de preços (esperada para as ofertas de ações) e depois houve questionamento da demanda das ofertas", explica Miranda.
"O mercado entrou em compasso de espera. Agora as empresas que adiaram planos devem retomar o planejamento depois de uma definição do cenário político, com a eleição de um candidato que tenha agenda para uma economia sustentável e que priorize a redução do déficit fiscal", afirma a sócia das áreas de Mercado de Capitais e M&A do Trench Rossi Watanabe, Lara Schwartzmann.
Os recursos que seriam levantados pelas companhias seriam utilizados para reforço do capital de giro, melhora da estrutura financeira e, ainda, investimentos em expansão, como era o caso do Agibank, que definiria o preço de sua oferta neste mês, mas foi pego pelo acirramento da aversão ao risco. Já a JHSF Malls programava utilizar o dinheiro para pagar dívidas, de um lado, mas também investir na expansão de seus shoppings.
Reversão
No início do ano havia uma expectativa bastante otimista para 2018, após muita movimentação das companhias em 2017, quando as ofertas de ações giraram cerca de R$ 42 bilhões. A previsão de bancos de investimento era de que, até julho deste ano, as operações, incluindo ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) e subsequentes (quando as empresas ofertam mais papéis) pudessem movimentar até R$ 25 bilhões.
Até o momento, contudo, a bolsa brasileira foi palco de três IPOs: as operadoras de planos de saúde Intermédica Notredame e Hapvida e o banco Inter, com um volume conjunto de cerca de R$ 7 bilhões e que contaram com demanda alta dos investidores. Se contabilizada a oferta da empresa de meios de pagamento do Uol, a PagSeguro, em janeiro deste ano, mas que abriu seu capital na bolsa de Nova York, esse volume sobe para cerca de R$ 14 bilhões.
O sócio da área de Mercado de Capitais do escritório Mattos Filho, Jean Marcel Arakawa, explica que o número de desistências para a abertura de capital neste momento é algo natural, já que o processo para um IPO leva tempo. Com isso, o mercado pode se transformar do início do processo até o momento mais próximo da precificação. Ele lembra, contudo, que o trabalho não é perdido com a desistência e que a documentação para o IPO das candidatas apenas precisará ser atualizada para uma nova tentativa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.