Analistas do mercado financeiro apontam que, apesar da vitória na Câmara, que suspendeu a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer (PMDB) na quarta-feira (2), o governo terá de recuar no teor das mudanças propostas para a Previdência se quiser aprovar alguma alteração no sistema de aposentadorias. O projeto de reforma é visto pelo Palácio do Planalto como uma das principais medidas de ajuste nas contas públicas e serviu para Temer garantir a simpatia de investidores assim que assumiu a Presidência, em 2016.
– O texto atual é bastante firme. Mesmo com projeto mais brando, será um desafio para o governo aprová-lo. Se a reforma passar, terá ajustes – avalia o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.
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Para conseguir a aprovação de mudanças na Previdência, o governo precisará do apoio de ao menos 308 dos 513 deputados em duas votações – o texto também necessita da chancela de 49 dos 81 senadores. Na sessão que suspendeu a denúncia contra Temer na quarta-feira (2), o Planalto teve 263 votos a seu favor na Câmara.
– O governo gastou seu capital político. Daqui para frente, a previsão é de que fatie a reforma da Previdência e coloque em discussão temas especiais, como idade mínima e regra de transição, para que seu desgaste seja menor. Não terá força para o pacote de mudanças previstas inicialmente – prevê o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Após a delação da JBS atingir Temer, em maio, o mercado chegou a projetar a eventual substituição do peemedebista pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). À época, uma troca no Planalto foi vista com bons olhos por investidores por conta da avaliação de que o aliado do governo poderia manter a agenda de reformas.
– Havia expectativa de que Maia teria maior facilidade para aprovar as mudanças na Previdência. Mas isso não se materializou. Voltamos à realidade Temer, e o mercado dará maior credibilidade para a equipe econômica – observa Agostini.
Para o economista da Austin Rating, só em 2018 o governo terá condições de aprovar eventuais mudanças na Previdência pelo fato de estar "fragilizado".
– O mercado espera alguma mudança. Se a reforma vier, será diluída, com regra de transição que não aperte tanto o cinto, por exemplo – ressalta o economista-chefe da Geral Investimentos, Denilson Alencastro.
A bolsa de valores de São Paulo fechou nesta quinta-feira (3) em baixa de 0,53%, a 66.777 pontos. O dólar encerrou a sessão com recuo de 0,2%, cotado a R$ 3,11.
– Na quarta-feira, o mercado já via que não haveria troca de governo. Nesta quinta, foi um mero ajuste – diz Agostini.
Em outro segmento da economia, o produtivo, a manutenção do governo pode trazer estabilidade a novos investimentos, analisa o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry:
– A situação de Temer será analisada após seu mandato. Há uma parada nisso e novo ânimo para a indústria retomar a atividade e gerar empregos.