Encarar as taxas de financiamento de automóveis pode trazer uma falsa sensação de bom negócio, afinal, estão entre os juros mais baixos do sistema financeiro nacional. Mas não são – pelo menos, se comparadas à opção de guardar o dinheiro por si mesmo, antecipando o valor economizado para pagar o carro à vista.
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Conforme o educador financeiro Alfredo Meneghetti Neto, professor de Economia da PUC-RS, quem se disciplina a poupar um determinado valor a cada mês pode chegar rapidamente ao preço de um automóvel, de maneira menos custosa. Afinal, em vez de correr para pagar juros de empréstimo, o rendimento é que estará correndo a favor do consumidor para alcançar o montante pretendido.
– Quem consegue juntar o dinheiro também pode chegar até a concessionária e negociar um bom desconto pelo pagamento à vista – afirma Meneghetti.
A estratégia para começar a guardar é escolher o carro desejado e dividir seu valor pelo número de meses até a data da compra. Se a "parcela" couber no orçamento, o próximo passo será optar por uma aplicação que aceite depósitos relativamente baixos e não tenha impedimento para o resgate no curto prazo, como a poupança.
O rendimento será o segredo para evitar que a inflação corroa as economias e uma maneira de se blindar contra um eventual aumento no preço do carro até a data da compra.
– Neste planejamento, é importante saber qual o tipo de carro que se pode, efetivamente, comprar, sem que a economia mensal pese em demasia nas finanças da família – explica Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste Associação de Consumidores.
Uma maneira mais fácil de economizar é por meio de consórcios, com juros mais baixos do que os do financiamento de automóveis. Por outro lado, os consórcios carregam taxas de administração e regras que impedem quem atrasa as cotas de participar dos sorteios.
Levantamento feito pela reportagem com as calculadoras de Proteste, Banco Central e a administradora de consórcios Embracon mostra a distância entre economizar e pagar juros. Quem já tem R$ 10 mil e irá guardar dinheiro ao longo de três anos para comprar à vista um carro popular avaliado em R$ 35 mil terá de fazer uma economia mensal de até R$ 600. Se der esses R$ 10 mil de entrada e financiar o resto, a parcela será de R$ 1.007,80. E se recorresse a um consórcio com pouco menos de R$ 10 mil para dar um lance, o consumidor teria cotas mensais que seriam de R$ 991.
5 dicas para poupar dinheiro e comprar um carro
– Defina o valor que você quer pagar: Pesquise o carro que deseja e calcule em quanto tempo o valor cobrado poderá ser alcançado com suas economias mensais.
– Crie regras para não pular os depósitos: encarar esta poupança como um compromisso irá fazer você manter a regularidade nos depósitos e evitar que saque o valor antes da hora para arcar com outras contas.
– Guarde em uma aplicação que faça o dinheiro crescer: não deixe o dinheiro na conta corrente, e sim aplique na poupança ou CDBs que paguem um percentual de rendimento alto.
– Quando ganhar um dinheiro extra, como restituição de Imposto de Renda ou o 13º salário, guarde uma parte na "poupança do carro", de forma a acelerar a conquista de seu sonho.
– Considere comprar um carro usado: o veículo recém-saído da fábrica é bem mais caro do que um usado com baixa rodagem (ao sair da concessionária, um carro já perde entre 15% e 20% do valor original).
SIMULAÇÕES
Poupar ou financiar?
Veja essas simulações para comprar um carro de R$ 35 mil. O primeiro valor é para uma poupança de três anos, a fim de pagar, no final, o valor total do veículo à vista - considerando o valor que já se tem na largada. O segundo considera o valor já guardado como entrada e o saldo num financiamento de 36 meses.
Opções para quem já tem R$ 5 mil
Poupança: R$ 740 por mês
Financiamento: R$ 1.209,36 por mês
Opções para quem já tem R$ 10 mil
Poupança: R$ 592 por mês
Financiamento: R$ 1.007,80 por mês
Opções para quem tem R$ 20 mil
Poupança: R$ 295 por mês
Financiamento: R$ 604,68 por mês
Fontes: calculadora da poupança da Proteste, considerando rendimento da Caderneta de Poupança, calculadora de financiamento do Banco Central e simulador da Embracon Administradora de Consórcios. Simulações feitas com juros pesquisados pela Anefac, de 2,17% ao mês.