A indústria criou 375 mil postos de trabalho em um trimestre, o equivalente a um aumento de 3,3% no total de ocupados no setor. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta sexta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na direção oposta, a construção civil cortou 683 mil postos de trabalho no período de um ano. O total de ocupados na atividade encolheu 9,2% no segundo trimestre de 2017 ante o mesmo período de 2016.
As novas vagas de trabalho criadas são fruto do aumento de trabalhadores informais, especialmente na indústria alimentícia.
– Que indústria é essa que está aumentando o contingente de ocupados? A gente vê que a frequência maior se dá sobre o contingente de trabalhadores sem carteira assinada – ressaltou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. – A indústria extrativa não se altera, é a indústria de transformação que contrata. E quem puxou foi a indústria alimentícia – explicou.
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No segundo trimestre, o total de ocupados no país cresceu 1,4% em relação ao primeiro trimestre do ano, com a criação de 1,289 milhão de vagas. Outros setores que contrataram no período foram comércio, com 199 mil funcionários a mais; transporte, armazenagem e correio, com mais 131 mil; alojamento e alimentação, mais 77 mil; serviços domésticos, 39 mil a mais; administração pública, defesa, seguridade social, educação e saúde, mais 485 mil novas contratações; e outros serviços, com a geração de 238 mil novos postos.
Segundo Azeredo, houve elevação no montante de pessoas trabalhando por conta própria no segmento de cabeleireiros e serviços de beleza, que se enquadram na categoria de "outros serviços", e como motoristas de passageiros, o que pode ser explicado por um maior número de motoristas de aplicativos como o Uber.
– O avanço no setor de transporte se caracteriza principalmente por uma entrada de motorista de passageiros. É possível que seja motorista de aplicativo, mas a pesquisa não consegue fazer essa distinção – ponderou ele. – A gente não tem como separar qual é o motorista de táxi e o de aplicativo. Mas a gente sabe que o aplicativo é uma forma de resgate do emprego. A pessoa perde o emprego e se insere no aplicativo – completou.
No caso do segmento de Administração Pública, o coordenador do IBGE disse que houve um movimento sazonal de contratação após uma demissão tradicionalmente mais acentuada ao fim de cada ano.
– Na administração pública, 48% desse grupamento é voltado para a educação, e ela teve um peso importante. É comum que no fim do ano as prefeituras demitam professores para fechar as contas, depois contratam de novo. Esse aumento de alta e baixa é sazonal – disse.
Marca importante
O mercado de trabalho voltou a mostrar força no último trimestre, mas ainda é cedo para falar em recuperação. As perdas acumuladas durante os anos de crise ainda estão longe de ser compensadas, avaliou Cimar Azeredo.
A taxa de desemprego caiu de 13,7% no primeiro trimestre para 13,0% no segundo trimestre, o primeiro recuo estatisticamente significativo desde o fim de 2014. Houve abertura de 1,289 milhão de postos de trabalho no período, além de redução de 690 mil pessoas na fila do desemprego.
– A alta na ocupação não compensa o patamar do ano passado, porque as perdas foram muito significativas. Mas o aumento da ocupação é um movimento que está acontecendo. Essa tendência no período curto mostra que o mercado gerou postos de trabalho. No período recente, mostra uma força nesse mercado. Em relação ao ano passado, ainda mostra desgaste pela crise política e econômica que se arrasta desde 2014 – disse Azeredo.
Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o total de ocupados está 0,6% menor, com 562 mil vagas a menos. Mas a população ocupada voltou a superar a marca de 90 milhões de pessoas, pela primeira vez desde dezembro de 2016. Segundo Azeredo, há uma reversão de tendência na taxa de desocupação e na eliminação de empregos, mas ainda não é possível dizer se permanecerá nas próximas leituras.
– É importante a marca de 90 milhões de ocupados ser restabelecida, mas mais importante ainda é voltar ao nível de ocupação de antes da crise. A ideia é que a gente recupere esse nível de ocupação com indicadores de qualidade, como a carteira assinada, principalmente – defendeu.
O nível da ocupação, que mede o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, foi estimado em 53,7% no segundo trimestre deste ano. Um ano antes, estava em 54,6%. No segundo trimestre de 2014, antes que a crise impactasse o mercado de trabalho, o nível da ocupação estava em 56,9%.
Cortes
Além da construção civil, outras atividades com corte de vagas foram agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura – menos 765 mil empregados, recuo de 8,1% no total de ocupados–, administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais – menos 206 mil vagas, queda de 1,3% – e serviços domésticos –menos 183 mil empregados, redução de 2,9% no total de ocupados.