A entrevista de emprego é como um jogo de xadrez: o recrutador joga iscas, prevê reações, arma o alçapão para captar fragilidades do candidato ou inconsistência com o que escreveu no currículo. Já o candidato chega preparado com respostas ensaiadas e sedutoras, aproveitando cada brecha para enlaçar a confiança do recrutador.
Neste jogo, um dos movimentos mais engenhosos são as perguntas indiretas, embasadas na psicologia comportamental. São com elas que os recrutadores conseguem baixar a guarda dos interlocutores, levando-os a expor, sem perceber, suas fragilidades, conflitos internos e expectativas verdadeiras quanto ao que podem oferecer no trabalho.
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– Muitos candidatos vêm com respostas prontas, nem sempre tão precisas sobre ele mesmo _ explica a psicóloga Luciana Adegas, supervisora de RH da Metta Capital Humano, que realiza entrevista com candidatos antes de encaminhá-los a empresas que estão contratando:
– As perguntas indiretas e as técnicas de projeção, por exemplo, ajudam a verificar se o candidato tem mesmo o perfil para o cargo.
A mais manjada das perguntas é qual o principal defeito do candidato. E a resposta mais óbvia é ser perfeccionista ou rigoroso com horários e prazos. Na verdade, o objetivo do questionamento é um pouco diferente. Os recrutadores querem saber, em primeiro lugar, se o candidato tem uma resposta predeterminada, e muitas vezes exploram mais o tema para saber como o tal "perfeccionismo" se dá no dia a dia, buscando alguma inconsistência.
– As respostas mais comuns podem, na verdade, ser um tiro no pé, pois muitas empresas podem considerar perfeccionismo uma característica indesejada, como aquelas que exigem mais agilidade na realização de tarefas – diz Luciana.
Carla Mello, Diretora da Lee Hecht Harrison Região Sul, empresa que atua no desenvolvimento de liderança e transição de carreira, explica que o papel dos recrutadores é buscar evidências que confrontem as informações que os candidatos trazem com as que ele defende no currículo ou em outras etapas do processo de seleção, como as dinâmicas de grupo.
– Nesse procedimento, a linguagem corporal, o olhar e o comportamento indicam se o candidato está seguro de sua resposta ou se há alguma inconsistência ali – explica Carla.
A projeção entra neste ponto. Em vez de fazer perguntas que podem ser desconfortáveis ao candidato, como "quais são suas frustrações profissionais", os especialistas em RH podem pedir para ele projetar nos colegas de trabalho quais são as frustrações que enxerga na sua rotina na empresa.
Diante da pressão da entrevista, a tendência de um candidato que começa a se sentir "cercado" pelos questionamentos é ficar nervoso, e então deixar a conversa descambar de vez, expondo meias verdades e sentindo que a oportunidade escorre por entre os dedos. A saída está em tentar manter o controle da situação e a confiança de quem está sendo sincero.
– Antes de qualquer coisa, tenha sempre em mente que a vaga é sua. A confiança faz toda a diferença num processo seletivo – afirma a gestora de carreira Madalena Feliciano.