A pista curta do Salgado Filho custa caro ao Rio Grande do Sul. De um lado, o aeroporto perde a maior parte das cargas exportadas via aérea para outros terminais, principalmente de São Paulo, deixando de gerar negócios no RS. De outro, a necessidade do transporte das mercadorias por caminhões até Viracopos (Campinas) ou Guarulhos impõe gasto extra às empresas. Além do custo adicional, que mina a competitividade, a operação tira a agilidade, fazendo com que companhias gaúchas percam mercado.
Os dados do Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento mostram que, nos últimos cinco anos, US$ 3,34 bilhões em mercadorias produzidas no Estado foram exportadas por via aérea. Mas apenas US$ 442 milhões, ou 13%, embarcaram do Salgado Filho – devido à pista diminuta, cargueiros não têm como decolar para grandes distâncias carregados com toda a capacidade e combustível suficiente. Ou seja, US$ 2,9 bilhões – cerca de R$ 9 bilhões ao câmbio de sexta-feira – foram exportados a um custo maior e movimentaram a economia fora do Rio Grande do Sul. Calçados, equipamentos, armas, couros e peles são as principais cargas perdidas.
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A perna rodoviária eleva o custo em 40% para as empresas gaúchas, calcula Alexandre Duarte, diretor da Formac Cargo, uma das principais operadoras logísticas do país focada na exportação aérea. Segundo Duarte, para uma tonelada de mercadoria comum embarcada em Viracopos rumo a Frankfurt, na Alemanha, a tabela é de US$ 0,90 por quilo. Mas, se antes o produto for despachado por caminhão de Porto Alegre, há US$ 0,36 adicionais, o que leva o frete total para US$ 1,26. Se a pista do Salgado Filho for ampliada e atrair cargueiros, o custo seria igual a Campinas, diz o especialista. Duarte avalia que, nessa hipótese, o aeroporto da Capital tem potencial de recuperar toda a mercadoria desviada. E ir além:
– É possível atrair cargas de Santa Catarina. Empresas do Paraná também teriam mais uma opção.
A fabricante de sistemas de controle eletrônico Novus, de Porto Alegre, é atingida pela situação atual e espera ver os negócios decolarem quando a pista for ampliada. Movimentar mais carga é a prioridade da alemã Fraport AG Frankfurt, vencedora do leilão para administrar o Salgado Filho pelos próximos 25 anos. A Novus exporta metade do que produz para 60 países. Tudo por Viracopos. Além do custo, falta agilidade, diz o diretor-executivo, Aderbal Lima:
– Na Europa e nos EUA, estão acostumados a receber em até 48 horas. Temos produtos para pronta entrega, mas às vezes demora 10 dias para chegar ao cliente. Como cativar esses mercados assim? Perdemos negócios.
O mesmo relata o diretor do curtume A.P. Müller, de Portão, Cezar Müller. A empresa exporta 100% da produção, mas deixa de participar de nichos mais sofisticados, como ligados à moda, devido à obrigação de entrega rápida ao cliente no Exterior.
– Há o risco de não cumprir o contrato e pagar multa. Isso nos impede de avançar em um mercado em que não atuamos. Apesar de termos produto e preço, a logística é uma barreira – observa Müller.
Benicio Haas, diretor da gaúcha Aerolog, voltada à logística de cargas aéreas dentro do país, também diz que há perda de carregamentos direcionados para o mercado interno. Além da demora para a entrega, a falta de capacidade do Salgado Filho força que mercadorias de maior valor e visadas por quadrilhas – armas, cigarros, medicamentos e eletrônicos – fiquem à mercê do crime atravessando o país por rodovias.