Sem folga, a economia brasileira prosseguiu em recessão pelo segundo ano consecutivo, amargando queda de 3,60% em 2016, conforme mostra a mediana das expectativas coletadas pela pesquisa da Agência Estado. O intervalo das expectativas de 48 instituições para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2016 – de retração de 3,70% a 3,50% – mostra que não houve trégua e que o país enfrentou a pior recessão da história, já deixando uma herança estatística negativa para 2017. Confirmada a queda, o Brasil terá dois anos seguidos de recessão, o que não ocorre desde 1930-1931.
Em 2015, o quadro já fora ruim, quando houve declínio de 3,8% e, em 2014, o PIB cresceu apenas 0,5% – dado revisado após taxa positiva original de 0,10%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o PIB de 2016 na terça-feira, às 9h, por meio das Contas Nacionais Trimestrais.
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Os analistas avaliam que tanto os componentes da demanda quanto da oferta fraquejaram em 2016. A exceção, do lado da demanda, foram as exportações, que, conforme eles, podem ter impedido um declínio maior do PIB.
"O PIB deve ter tido desempenho negativo generalizado, com destaque para a continuidade do enfraquecimento do consumo e do investimento. Apesar disso, esperamos leve alta do PIB neste trimestre, impulsionada, principalmente, pelo crescimento da atividade agropecuária", pondera o Bradesco em relatório, ao prever queda de 3,60% para o PIB em 2016.
O economista Marco Caruso, do Banco Pine, é um dos que aguardam expansão somente no setor externo, de 2,5%. A projeção, contudo, é inferior ao crescimento de 6,1% apurado em 2015.
Já o principal destaque negativo em 2016, de forma unânime entre os analistas, foram os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). As expectativas são todas de retração, depois de um ano já tendo registrado declínio de 14,1%.
"O PIB deve confirmar números bastante negativos para 2016, como a FBCF, que deve ter apresentado queda de 10,6% no ano, terceira consecutiva, o que implicará recuo de 26% no triênio", analisa o economista Luiz Castelli, na página on line da GO Associados.
Ainda sob a ótica da demanda, Caruso, do Pine, acrescenta que espera quedas de 4,2% no consumo das famílias, após variação negativa de 4,0%; de 0,9% nos gastos do governo (de -1,0%); de 10% na FBCF; e baixa de 10,5% nas importações.
Já do lado da oferta, o Pine aguarda retração de 6,5% no PIB da Agropecuário, ante alta de 1,8% no ano anterior, recuo de 3,8% na indústria (de -6,2%) e declínio de 2,6% no segmento de serviços (de -2,7%). Para o PIB, calcula taxa negativa de 3,5% em 2016.
A despeito de estimar um tombo de 3,7% para o PIB industrial de 2016, o que levará o dado para um recuo acumulado de 11,2% no último triênio, Castelli, da GO Associados, pondera que já vê indícios de melhora. "Apesar desses dados negativos para o último trimestre de 2016, a perspectiva é que o país saia da recessão neste primeiro trimestre, quando deve apresentar alta de 0,3% em relação ao quarto trimestre do ano passado. Para o ano, a projeção é de alta de 0,8%", adianta.
*Estadão Conteúdo