Com a abertura do leilão dos aeroportos para empresas estrangeiras, sem obrigação de parceria nacional como ocorreu no governo de Dilma Rousseff, a projeção é de que não haja participação das construtoras brasileiras – que nas últimas disputas lideraram os consórcios, mas hoje veem seu caixa fragilizado e a reputação em xeque em razão da Lava-Jato.
A expectativa é de que três grupos estrangeiros participem do leilão de hoje: a operadora alemã Fraport, a francesa Vinci Airports e a suíça Zurich. Cada uma pode fazer ofertas em duas concessões, mas não poderá ganhar as duas na mesma região do país. Nos últimos dias, quatro conglomerados desistiram de participar, deixando a concorrência mais morna. O governo espera arrecadar pelo menos R$ 3 bilhões com as outorgas nessa rodada de licitação de aeroportos. Os vencedores investirão R$ 6,6 bilhões. A Anac informou nesta quarta-feira que todas as propostas feitas foram aceitas.
O Salgado Filho é considerado um dos "azarões" do páreo. Em razão da complexidade da ampliação da pista, a queda no fluxo de passageiros e o tempo de retorno mais curto, há suspense se haverá lances pelo terminal gaúcho. O valor de outorga (pagamento mínimo ao governo para assumir o aeroporto) é o mais baixo entre os quatro na disputa (R$ 123 milhões, ante R$ 211 milhões da unidade de Florianópolis, por exemplo, e R$ 1,44 bilhão pela de Fortaleza).
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– O valor pode ter sido mais baixo em razão da necessidade de investimentos mais altos no Salgado Filho, principalmente a questão da pista e a remoção das famílias – sugere o advogado Claudio Candiota Filho, coordenador do Comitê em Defesa do Salgado Filho.
Fontes consultadas por ZH relatam que pelo menos dois grupos avaliaram enviar propostas pelo Salgado Filho, mas os riscos técnicos e ambientais levantam dúvidas se as ofertas efetivamente foram entregues. A avaliação é de que os aeroportos do Nordeste poderão despertar mais o apetite dos grupos concorrentes, em razão do potencial para ampliarem os voos entre Salvador ou Fortaleza e Europa e Estados Unidos.
Candiota teme que a hipótese de um novo aeroporto possa "melar" a concorrência pelo Salgado Filho – neste caso, Porto Alegre se tornaria um terminal para voos domésticos, sem as lucrativas taxas paga por passageiros em voos internacionais.
Se não houver propostas, o edital é cancelado e o leilão será reavaliado pelo governo. No caso de mais de uma proposta, vence a que apresentar o maior valor de outorga.
Clique nos pontos abaixo para ver quais obras são esperadas no Salgado Filho
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Movimento de passageiros no Salgado Filho em cada ano
2012 - 8,261 milhões
2013 - 7,993 milhões
2014 - 8,447 milhões
2015 - 8,354 milhões
2016 - 7,648 milhões
Fonte: Infraero
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As novidades deste leilão
- Ao contrário das concessões anteriores, a Infraero não precisa ser incluída como participante nos aeroportos concedidos à iniciativa privada. Nos leilões anteriores, a estatal tinha participação compulsória de 49% nas concessões.
- Operadoras internacionais de aeroportos poderão participar sozinhas do leilão, sem a obrigação de um parceiro nacional.
- As grandes empreiteiras brasileiras, protagonistas nos leilões anteriores, devem ficar de fora desta edição, em razão do caixa fragilizado e reputação manchada pela Operação Lava-Jato.
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Como o Salgado Filho chega à disputa
- Valor mínimo de outorga: R$ 123 milhões
- Movimentação de passageiros: 7,6 milhões (2016)
- Investimentos exigidos: R$ 1,9 bilhão
- Receita prevista em 2017: R$ 265 milhões
- Tempo de concessão: 25 anos, prorrogável por mais cinco
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Os outros aeroportos que irão a leilão
- Fortaleza (Aeroporto Plinio Martins)
Valor mínimo de outorga: R$ 1,44 bilhão
Movimentação de passageiros ao ano: 6,3 milhões
Investimentos necessários: R$ 1,4 bilhão
Receita prevista para 2017: R$ 175 milhões
Prazo de concessão: 30 anos (mais cinco prorrogáveis)
- Salvador (Aeroporto Dep. Luis Eduardo Magalhães)
Valor mínimo de outorga: R$ 1,24 bilhão
Movimentação de passageiros ao ano: 9 milhões
Investimentos necessários: R$ 2,35 bilhões
Receita prevista para 2017: R$ 270 milhões
Prazo de concessão: 30 anos (mais cinco prorrogáveis)
- Florianópolis (Aeroporto Hercílio Luz)
Valor mínimo de outorga: R$ 211 milhões
Movimentação de passageiros ao ano: 3,7 milhões
Investimentos necessários: R$ 960 milhões
Receita prevista para 2017: R$ 106 milhões
Prazo de concessão: 30 anos (mais cinco prorrogáveis)