A Comissão Europeia exige que todas as empresas envolvidas no escândalo da fraude da carne tenham seus produtos impedidos de entrar no mercado europeu e pede que membros do bloco adotem "uma vigilância extra" ao tratar de qualquer produto brasileiro no setor de carnes.
As informações foram anunciadas pelo porta-voz da Europa para assuntos de Saúde, Enrico Brivio, numa coletiva de imprensa em Bruxelas. O pronunciamento, no entanto, não deixou claro se a cobrança se refere às 21 unidades sob suspeita ou se a todas as plantas das empresas envolvidas na Operação Carne Fraca.
– Estamos em um processo para garantir que todos aqueles envolvidos na fraude não possam exportar para a Europa" – disse, lembrando que Bruxelas manteve "intensos contatos diplomáticos com o Brasil" nos últimos dias.
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Ao jornal O Estado de S. Paulo, Brivio explicou que os europeus pediram, no fim de semana, que as autoridades brasileiras retirassem da lista de exportadores todos aqueles citados no escândalo.
– Agora, cabe ao Brasil seguir nosso pedido. Eles garantiram que fariam isso. Depois veremos se isso de fato ocorreu e vamos continuar em contato com as autoridades brasileiras – indicou.
Segundo ele, a recomendação aos 28 governos europeus é de que sejam "extra vigilantes" com todo o carregamento de carnes do Brasil e que "aumentem os controles nas fronteiras".
Brivio, porém, insiste que até agora nenhuma irregularidade foi registrada na entrada de carnes nacionais.
– Mas pedimos vigilância e um aumento de controles – disse.
Segundo ele, é provável que o setor mais afetado seja o de frangos.
– Só uma pequena parte (do volume fraudado) parece ter sido exportado – afirmou. Mas estamos avaliando a situação com o Brasil e pedindo esclarecimentos para garantir que todos os lados envolvidos sejam suspensos de vender para a Europa – frisou.
Daniel Rosario, porta-voz de Comércio da Europa, insistiu que, apesar do escândalo, o caso não deve afetar as negociações que começam nesta segunda-feira, 20, com o Mercosul, em Buenos Aires.
Maior concorrente da carne brasileira no mercado europeu, os produtores irlandeses pedem oficialmente à Comissão Europeia o "embargo imediato de toda a importação de carne do Brasil".
Em um comunicado emitido na manhã desta segunda-feira, o presidente da Associação Irlandesa de Produtores de Carne (ICSA), Patrick Kent, disse que a UE tem alertado de forma repetida sobre os riscos da importação de carne da América do Sul.
– É ultrajante que a UE continue dando uma segunda chance ao Brasil, mesmo depois que o Escritório de Veterinária tenha produzido informes continuamente mostrando deficiências das práticas no Brasil. O pior de tudo é a tentativa de sacrificar a qualidade da produção de carne na Europa ao negociar um acordo comercial bilateral com os países da América do Sul. O impacto disso seria minar totalmente os produtores europeus e irlandeses, inundando a Europa com carne brasileira, barata e abaixo do padrão – afirmou.
Nesta semana, o caso chegará ainda à Organização Mundial do Comércio (OMC). A entidade se reúne a partir de terça-feira, 21, para debater temas fitossanitários.
Na agenda do encontro, fechada há 10 dias, não constava nenhuma crítica à carne do Brasil. Mas a reportagem apurou que, desde a eclosão do novo caso, os principais parceiros comerciais se mobilizam para levantar o assunto durante a reunião. Diversos governos também indicaram que querem pedir reuniões bilaterais com o Brasil nesta semana para obter esclarecimentos sobre a fraude na carne.
A questão da carne é um dos temas sensíveis nas negociações entre o bloco europeu, por um lado, e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), do outro, para alcançar um acordo comercial cujas primeiras conversações remontam a 1999 e foram retomadas em 2010 depois de um intervalo de vários anos.
Neste contexto, o escândalo da operação "Carne Fraca" no Brasil, no qual a Polícia Federal desmontou um esquema de propinas dos frigoríficos pagas aos inspetores sanitários para poder camuflar alimentos inapropriados para consumo, aconteceu dias antes do início uma nova rodada de negociações entre os dois blocos nesta segunda-feira, em Buenos Aires.
As conversações na Argentina entre os dois blocos, que decidiram adiar as discussões sobre a carne até a celebração das eleições presidenciais e legislativas na França (abril-junho), são cruciais para saber se é possível alcançar um eventual acordo até o final de 2017.