No momento em que os questionamentos sobre os benefícios da globalização se proliferam e diante da ameaça de os Estados Unidos criarem regras alternativas ao comércio global, o embaixador brasileiro Roberto Azevêdo foi reeleito nesta terça-feira, em Genebra, para mais quatro anos no comando da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em discurso às vésperas da sua reeleição, Azevêdo fez um alerta claro: caberá a cada um dos governos, embaixadores e diplomatas lutar pela sobrevivência do sistema multilateral diante da ameaça protecionista que paira sobre o mundo.
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O debate sobre a situação americana acabou sendo o centro da discussão sobre a reeleição de Azevedo. O brasileiro era candidato único para mais um mandato e o processo, que estava marcado para ocorrer entre fevereiro e maio, foi antecipado. Nesta segunda-feira, o diretor-geral da OMC foi alvo de questionamentos, por parte de alguns governos, com a sobrevivência do sistema no centro do debate.
O governo chinês, numa clara alusão aos EUA, questionou Azevêdo sobre o que pretendia fazer para se "contrapor ao aumento do protecionismo". Em resposta, o brasileiro indicou que esse deve ser um "esforço comum" e pediu que delegações se manifestem contra barreiras.
O governo americano foi o próximo a falar, argumentando que medidas de defesa comercial não são atos protecionistas. Washington pediu para que Azevêdo fosse mais direto. O diretor-geral da OMC admitiu que todos os governos têm esse direito. Mas apontou que é sua aplicação que deve ser avaliada.
Ao tomar a palavra diante dos mais de 160 países para pedir o apoio de todos, Azevêdo foi contundente em reconhecer que a globalização está sendo questionada.
– Precisamos pensar sobre como garantir que os benefícios do comércio cheguem a mais pessoas – defendeu.
Pela Europa, EUA e diversos países, partidos políticos têm usado a globalização comercial como alvo de suas campanhas, prometendo rever acordos e mesmo abandonar algumas iniciativas. Azevêdo, sem citar Donald Trump, deixou claro que as ameaças existem.
– O crescimento da economia global é baixo. O crescimento do comércio é baixo. As ameaças do protecionismo não podem ser ignoradas – disse. – O multilateralismo enfrenta resistências e ainda lutamos contra os desafios persistentes da pobreza – afirmou. – Muitos se sentem excluídos dos benefícios do comércio.
Azevêdo quer, nos próximos quatro anos, trabalhar para que o comércio seja "parte da solução" e não o responsável pelos problemas sociais. Diante do cenário, segundo Azevêdo, a OMC "é mais importante do que nunca". "Precisamos trabalhar para defender o sistema. Temos o papel de salvaguardar esse elemento-chave da governança global."