Praticamente desapareceram as promoções bombásticas de construtoras que anunciavam, até bem pouco tempo, descontos de até 40%. Conseguir um corte de 10% a 15% no preço de um imóvel novo tem sido considerado um negócio da China nas atuais condições. Conforme corretores e construtoras, os descontos passaram a ser mais pontuais, já que os preços também deixaram de subir.
– As empresas perderam aquela "gordura" com a subida de preços nos anos anteriores, e as margens de lucro encolheram. Não sobra muito espaço para grandes descontos – analisa o corretor de imóveis Murialdo Crescencio, que administra uma página no Facebook com dicas de economia para a compra da casa.
Construtoras passaram a contrapor a barganha dos clientes com outras vantagens: algumas quitam o Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e arcam com custos de cartório para quem paga à vista. Outras oferecem porcelanato e acabamentos diversos quando recebem dinheiro na mão.
– Imóvel usado ou automóvel na troca também passaram a ser bem vistos por algumas construtoras, em particular em negócios envolvendo o programa Minha Casa Minha Vida – diz Murialdo.
A facilidade nas condições de pagamento é decorrência de um ano fraco para as construtoras. Até novembro, foram vendidas 3,1 mil unidades novas em Porto Alegre, redução de quase 15% em relação ao mesmo período de 2015, conforme o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS). Com o mercado patinando, os preços praticamente estagnaram. Segundo o Índice Fipe/Zap, os valores subiram metade da inflação.
– A demora para a retomada do crescimento da economia atrapalha o mercado. Além disso, os bancos estão extremamente rígidos na análise de risco para liberar financiamento, o que impede que as vendas subam – aponta Ricardo Antunes Sessegolo, presidente do Sinduscon-RS.
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O dirigente afirma que as construtoras compensam a dificuldade de mercado com mais eficiência nas construções, o que mantém o preço estável e não abre brecha para grandes ofertas.
– Os descontos ocorrem quando a compra é na planta (antes de o imóvel ficar pronto): como o pagamento é antecipado, os preços que valeriam daqui a 30 meses são trazidos para valores à vista – explica, calculando que o desconto nesses casos pode chegar a 18%.
O casal de aposentados Nilvio e Elisabete Severo teve sucesso na negociação para comprar um apartamento recém lançado no bairro Teresópolis, em 2016. Em busca de um local seguro e com amplo espaço de convivência, organizaram as contas para pagar à vista e tentar reduzir preços.
– Dissemos ao corretor que só compraríamos se houvesse um bom desconto, pois há grande oferta de imóveis na cidade, e poderíamos escolher outro – diz Nilvio.
A construtora abriu mão de 10%.
– O que sobrou foi suficiente para colocar o piso e fazer a decoração – comemora Nilvio.
Mercado em baixa
– Conforme o Sinduscon-RS, o número de unidades novas vendidas na Capital no acumulado de 2016 até novembro foi de 3.103. É uma queda de 14,6% em relação ao mesmo período do ano anterior e o menor volume desde 2008 (último ano informado no relatório da entidade).
– Segundo o Índice Fipe/Zap, o preço médio dos imóveis em Porto Alegre subiu 3,21% de dezembro de 2015 para dezembro de 2016, quase metade da inflação no período (6,4%). Já o preço médio de locação caiu 3,39%.
Atenção ao negociar a compra do imóvel
FINANCIADO
– Faça simulações nos sites dos bancos e avalie se as parcelas caberão no seu bolso.
– Ao comparar as taxas de diferentes bancos, observe o Custo Efetivo Total (CET), que, além do juro, inclui correção da Taxa Referencial e seguros.
– Avalie utilizar o FGTS para baixar o financiamento. O fundo tem rentabilidade baixa, e pode baratear as parcelas.
À VISTA
- Se tiver condições de pagar à vista, negocie bons descontos com construtoras e corretores.
-Fique atento às promoções que prometem 30% ou 40% de descontos. Geralmente se referem à ponta de estoque.
- Ao comprar um imóvel na planta, avalie os riscos do negócio, como atraso na obra e o risco de você perder a renda no longo prazo, quando tiver de pagar reforços nas prestações.
Fonte: Leandro Rassier, educador financeiro e diretor da LHR Investimentos, e Murialdo Crescencio, corretor de imóveis.