Com uma proposta que se assemelha a "shoppings centers", Porto Alegre investe em empreendimentos voltados à área da saúde que prometem reunir em um único local serviços médicos de várias especialidades e facilitar a vida dos usuários. Inspirados em um modelo já bastante difundido nos Estados Unidos e alguns países europeus, os projetos criam novos centros de saúde na capital, deixando concentrados em hospitais apenas procedimentos de média e grande complexidade, e trazem novo fôlego para o setor de construção civil, ainda retraído pelos efeitos da crise.
Tendência também em alguns outros grandes centros do país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, é na capital gaúcha onde estão as construções mais inovadoras: desde prédios erguidos com arquitetura voltada especialmente para abrigar consultórios até grandes complexos que agregam em uma mesma área estabelecimentos médicos, serviços de diagnóstico, apartamentos residenciais, hotel, centro de convenções e espaços de lazer e de conveniência. Na prática, o paciente vai poder retirar um raio X, fazer fisioterapia ou um exame de sangue sem a necessidade de deslocamento, desafogando o trânsito e economizando tempo.
– Nas últimas décadas, tivemos um salto no número de planos de saúde, mas a infraestrutura, no serviço público e no privado, não avançou no mesmo ritmo – explica Leandro Melnick, diretor-presidente da Melnick Even, responsável, junto com o Grupo
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Zaffari e o Hospital Moinhos de Vento, pela construção do complexo MaxPlaza, em Canoas, a primeira de cinco unidades programadas para serem lançadas até 2022.
O investimento dos cinco empreendimentos juntos deve ultrapassar a marca de R$ 2 bilhões. A primeira etapa é de R$ 350 milhões (leia mais na página ao lado).
O nicho também está no foco da Cyrela Goldsztein, que lança o MedPlex Eixo Norte, que, além de abrigar o primeiro Hospital de Curta Permanência (HCP) do Estado, traz outra novidade: o compartilhamento dos consultórios por profissionais da saúde.
– O médico não precisa ser mais dono do consultório. Ele pode compartilhar com outros colegas. Diminui o investimento, tem uma consulta mais barata e divide custos. E diminui a necessidade de tantos prédios. Economizamos recursos e ficamos em sintonia com o ambiente – afirma Ricardo Jornada, diretor de Incorporação e Novos Negócios da Cyrela.
São R$ 500 milhões investidos. O mercado é um oásis em meio ao difícil cenário enfrentado pelo segmento da construção civil. Enquanto há recuo de 12,7% nas vendas de imóveis residenciais no país nos últimos 12 meses, projetos voltados para área da saúde seguem sendo garantia de retorno.
– É uma tendência que deve ser vista ao longo da próxima década. O mercado de infraestrutura para saúde privada ainda é pouco explorado no Brasil. E conforme crescem as exigências das agências reguladoras em relação a ambientes médicos, aumenta a demanda. Os pacientes também estão mais exigentes. O que era aceitável 30 anos atrás não é mais em termos de acomodação para um consultório – diz Pedro de Seixas Corrêa, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenador da pós-graduação Viabilidade de Empreendimentos e Incorporações Imobiliárias.
Os empreendimentos
MaxPlaza Canoas
Investimento: aproximadamente R$ 350 milhões
Área: 11 mil m² de terreno e 50 mil m² de área construída
Previsão de conclusão: até o final de 2019
Outros empreendimentos: Grécia (zona norte), Aparício Borges, Parque do Pontal (na Avenida Padre Cacique) e Cavalhada, todos com previsão de inauguração até 2022
Medplex Eixo Norte
Investimento: R$ 500 milhões
Área: 6.035 m² de terreno e 32.500 m² de área construída (15 pavimentos)
Lançamento: 2016
Outros empreendimentos: duas torres MedPlex no bairro Santana, lançadas em 2014 e 2015
Condomínio de saúde
Com obras aceleradas, o Maxplaza promete funcionar como um empreendimento que ajude a desafogar a demanda dos hospitais de Porto Alegre e facilitar o atendimento em Canoas. Além das torres dedicadas aos consultórios e o centro médico, o Maxplaza, localizado às margens da BR-116, perto da Praça do Avião, contará com duas torres de área residencial, uma comercial e um hotel.
Os prédios serão independentes dos serviços voltados à saúde, mas próximos o suficiente para moradores e hóspedes os terem por perto quando precisarem. No shopping, estabelecimentos, como farmácia e lojas de alimentação, também estarão à disposição dos visitantes.
É a primeira de cinco unidades planejadas para serem inauguradas nos próximos cinco anos. Um dos parceiros no empreendimento será o Hospital Moinhos de Vento, que terá uma área de 600 metros quadrados dedicada à medicina diagnóstica.
– Como não é uma atividade imobiliária qualquer, buscamos parcerias para garantir a qualidade da medicina oferecida. A escolha natural foi o Hospital Moinhos de Vento, uma parceria para garantir a gestão da saúde dentro do ambiente e credenciar as clínicas que atuarão lá – explica Leandro Melnick.
A empresa dividiu Porto Alegre em quatro sub-regiões, cada uma com população estimada de 500 mil pessoas e escolheu locais próximos ao eixo principal de cada uma delas para posicionar os empreendimentos.
As unidades estão projetadas para ficar a menos de 20 quilômetros de distância do hospital-base. Se em um procedimento intermediário a equipe perceber que o paciente precisa de intervenções mais complexas, ele poderá ser removido com mais rapidez para o Moinhos de Vento. As mudanças não alteram os serviços que hoje já são oferecidos no hospital.
Consultórios compartilhados
"Escritório comercial não é consultório médico". A frase repetida à exaustão pelo diretor de Incorporação e Novos Negócios da Cyrela, Ricardo Jornada, resume bem a proposta do Medplex, lançamento da empresa na Zona Norte da Capital. Com corredores com pelo menos dois metros de largura, elevadores com capacidade para maca, largura de 1,3 metro das portas em todos os consultórios e área de descarte de lixo hospitalar em todos os pavimentos, o prédio foi construído para atender às demandas médicas, de acordo com todas as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Localizado próximo aos hospitais Cristo Redentor, Nossa Senhora da Conceição e Banco de Olhos, o que permite o rápido deslocamento de médicos e pacientes em caso de necessidade, o empreendimento é o terceiro lançado pela empresa em Porto Alegre. Outros dois estão localizados no bairro Santana, próximo ao Instituto de Cardiologia.
Nos últimos dois anos, a companhia lançou empreendimentos semelhantes em Belo Horizonte e Curitiba, e no momento está construindo outros quatro, dois em São Paulo, e um em Campinas e Rio de Janeiro. Além de espaço para consultas, um terço dos prédios é dedicado a serviços vinculados à saúde, como área de exames, diagnóstico, farmácia e cafeteria.
Em Porto Alegre, a principal novidade é a possibilidade de compartilhamento de consultórios entre médicos. Uma estratégia que permite diluir o tamanho do investimento e até baratear a consulta para pacientes. Tática que deve ser reproduzida para os outros MedPlex espalhados pelo país, garante Jornada. A gestão das salas será executada por uma empresa especializada. Também está sendo estudada uma parceria com um grande hospital da cidade.
– Por enquanto, não podemos revelar mais detalhes, mas está em andamento.
A procura tem sido muito boa. Estimamos que pelo menos 70% esteja vendido nos próximos dois meses – conta.