Sinal de um ainda lento arrefecimento da recessão que assola o país e arrasta junto o Rio Grande do Sul, a economia gaúcha voltou a encolher no segundo trimestre de 2016, mas em taxas inferiores aos dois últimos períodos de três meses. A atividade no Estado teve queda de 3,1% entre abril e junho em comparação com igual intervalo do ano passado, informou ontem a Fundação de Economia e Estatística (FEE). O desempenho ainda é ruim, mas a retração foi inferior à verificada no país na mesma comparação, de 3,8%.
– A taxa, pelo segundo trimestre consecutivo, é melhor do que a brasileira. E em todas as grandes atividades (indústria, agropecuária e serviços), a queda também foi menor – destaca o coordenador do Núcleo de Contas Regionais da FEE, Roberto Rocha.
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Responsável por amenizar a retração do PIB gaúcho no ano passado, a agricultura também ficou com o desempenho no vermelho. A queda de 0,8%, justamente no trimestre em que o campo mais dá impulso aos números devido à colheita da safra de soja, é atribuída à quebra de 13,5% na produção de arroz, por problemas climáticos.
Na indústria, que murchou 2,5%, o melhor desempenho foi o de eletricidade (12%) devido ao crescimento na geração das hidrelétricas, mas a melhor notícia veio da construção civil pelo poder irradiador para outros segmentos e os efeitos na renda e no emprego. Após oito trimestres consecutivos de resultados negativos, subiu 1%. Ao tentar entender a recuperação nos canteiros de obras, a FEE encontrou dados de outras instituições que mostram aumento de pessoal ocupado no país, melhora no nível de atividade no Estado e crescimento da arrecadação na Capital de ITBI, imposto que incide sobre as transações imobiliárias.
O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado (Sinduscon-RS), Ricardo Sessegolo, também diz notar melhores perspectivas para o setor, mas nada que chegue a criar euforia.
– Existem pequenos sinais de mudança, ainda que esteja ocorrendo de forma muito lenta. Mas pelo menos há inversão do sinal para o positivo – diz Sessegolo.
A indústria de transformação voltou a cair, mas de forma menos pior. No segundo trimestre, regrediu 5,3%. Mas de janeiro a março o tombo foi de 7,6% e, em 2015, as taxas sempre foram de dois dígitos. Nas fábricas, chamou a atenção, pelo lado positivo, a atividade coureiro-calçadista, com alta de 5,7%, reflexo do aumento das exportações.
No setor de serviços, que inclui comércio e representa cerca de dois terços da economia, o recuo foi de 2%. Os segmentos com melhores números foram transporte e armazenagem (1,4%) e, confirmando o reaquecimento detectado na indústria, o de atividades imobiliárias (1,1%). Com o resultado, o Rio Grande do Sul acumula encolhimento de 3,7% na economia no primeiro semestre. No país, a queda foi de 4,6%.
Indicador positivo só em 2017, projetam especialistas
Apesar do recuo do PIB gaúcho em ritmo menor nos últimos dois trimestres, um resultado positivo na comparação com o mesmo período do ano anterior não deve ser esperado para 2016. O diretor técnico da FEE, Martinho Lazzari, observa que, na segunda metade do ano, a economia não terá o forte impulso da agricultura, que normalmente ocorre no primeiro semestre, a recuperação da construção civil ainda é frágil e os serviços também não apresentam sinais de retomada até agora.
Lazzari aponta que muito da taxa de queda menos aguda do PIB se deve à situação um pouco melhor da indústria, mas não há indicativos de que o setor tenha um desempenho que consiga levar a economia gaúcha para o azul até a virada do calendário.
– Está menos ruim, mas apostar em taxa positiva antes do final do ano, acho bastante difícil – diz Lazzari.
O mesmo vê a economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, que considera 2016 um ano perdido, espera alguma estabilização em 2017 e consegue vislumbrar recuperação maior da atividade somente em 2018. Desemprego em alta, renda em queda, inflação persistente e crédito restrito são fatores que ainda freiam a retomada do consumo e uma reviravolta mais forte na economia.
– Os dois trimestres que temos pela frente têm uma base de comparação muito baixa, mas não enxergo como poderíamos chegar a um trimestre positivo neste ano – analisa Patrícia.
De qualquer forma, a projeção é de que o Rio Grande do Sul tende a encerrar o ano com retração do PIB inferior à do Brasil. Para o país, a expectativa do mercado é de queda de 3,18%, conforme o último boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central.