Após 24 anos sendo realizada todos os meses, a Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA), o mapa mais completo do mercado de trabalho gaúcho, corre o risco de ser interrompida.
O impasse resulta das dúvidas sobre o gerenciamento dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), vinculados ao Ministério do Trabalho. Desde 1993, o governo federal remete verbas do FAT para a Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS), que, por sua vez, transfere valores para administração das agências do Sine e para equipe responsável pelo desenvolvimento da PED.
A administração da FGTAS quer uma garantia por escrito do novo ministro do Trabalho de que os repasses continuarão ocorrendo antes de assinar novo contrato com os trabalhadores terceirizados que realizam o levantamento de dados. Na esteira da incerteza, a recente mudança de governo em Brasília e a posse de um novo titular na pasta.
Gilberto Baldasso, diretor-presidente da entidade – acompanhado da chefe de gabinete Daniela Vilela e do assessor Arthur Brito – viajou a Brasília na segunda-feira passada em busca de uma resposta. Mas ainda não conseguiu definição.
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O novo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, que já foi presidente do FGTAS, garantiu em reunião anterior com a direção nacional do Dieese que os recursos serão encaminhados, mas não emitiu nenhum documento confirmando o repasse. No último convênio assinado, cinco anos atrás, foram repassados R$ 5 milhões para realização da pesquisa – R$ 1 milhão por ano da PED.
A administração das agências do Sine recebeu R$ 43 milhões no ano passado. Com o valor é acertada a contratação de equipe terceirizada para levantamento de dados do mercado de trabalho. O último contrato estabelecido vence nesta quinta-feira, 30 de junho.
Sem uma resposta oficial do ministério até o último dia de junho, a pesquisa é tecnicamente descontinuada. Os trabalhadores envolvidos diretamente nas entrevistas aos trabalhadores já estão de aviso prévio.Técnico envolvido no desenvolvimento da PED afirma que o início do levantamento de dados de julho poderia ser iniciado até o dia 7, sem prejuízo da pesquisa.
A partir dessa data, "seria difícil obter a quantidade de dados necessários para o mês". Nesta quarta-feira, a pesquisa mostrou que o desempregou recuou pelo segundo mês consecutivo na Grande Porto Alegre, chegando a 10,2% da população economicamente ativa.
Para economistas e especialistas em mercado de trabalho, a interrupção da PED é uma grande perda, já que a pesquisa serve de referência para os trabalhos desenvolvidos pelo IBGE. Eles destacam a importância do comparativo histórico para compreender os comportamentos e tendências.
– A PED é o instrumento que fornece maior poder de análise das especificidades locais da RMPA por dois motivos: possui a mais longa série histórica, permitindo comparações temporais e estudos estruturais, e a maior quantidade de indivíduos investigados, garantindo precisão mesmo para resultados sobre parcelas populacionais reduzidas – ressalta o Supervisor do Centro de Pesquisa de Emprego e Desemprego da FEE, Rafael Caumo
Lúcia Garcia, coordenadora do Sistema PED e economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconomicos (Dieese), aponta que há razões técnicas suficientes para manter a PED, com destaque para três características: a pesquisa acompanha as batidas do coração do mercado de trabalho, a amostra é potente e a metodologia é o maior avanço conceitual nesse campo.
– Esse modelo de pesquisa consegue acompanhar o que acontece em tempo real no mercado produtivo, a característica mais valiosa das pesquisas contínuas. Não adianta tentar recuperar o momento em que não se fez o levantamento. É uma pesquisa complementar à PNAD. Além disso, em 2013, a conferência mundial dos estatísticos do trabalho, ocorrida em Genebra, validou a metodologia adotada pela PED – disse Lúcia.